Anna e Adam (Judith Chemla e Arthur Igual), um casal de Paris com origens judaicas polonesas, partem em viagem para a Polônia. O objetivo é celebrar a memória de seus antepassados nos 75 anos da destruição da comunidade em que o avô de Adam nasceu. Apesar da importância familiar do evento, os ânimos são acirrados. O marido, afinal, não está animado com a viagem. E Anna está preocupada com o filho pequeno, que ficou aos cuidados dos avós. Mas aos poucos eles vão entendendo a importância dessa viagem.
Esta é a trama de Minha Lua de Mel Polonesa, primeiro filme como diretora da atriz Élise Otzenberger e que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta, 29. Roteirizado pela própria cineasta, o filme se divide em dois. Num primeiro momento, aposta na comédia para mostrar as idas e vindas desse casal na viagem. Adam fica bravo quando os poloneses já levam em conta que são judeus, enquanto Anna possui uma fixação fora do normal na saúde do filho. Chega a ser chato e irritante a personalidade desses dois.
Depois, há um segundo momento em que Élise aposta num drama mais familiar, calcado nas raízes históricas do casal, e que os irá transformar. Olhando de fora, sem ver a conexão entre as partes, parece que o longa-metragem tem duas histórias dentro de si. Os tons são muito diferentes e a mudança, de certa forma, é brusca. Sem dúvidas, o filme deverá dividir opiniões. Alguns vão gostar muito da primeira parte, enquanto outros vão preferir a segunda. Eu, particularmente, achei a segunda parte bem superior.
Mas vamos aos fatos. A comédia em si, apesar de ser bem francesa, não funciona. Os personagens de Anna e Adam insistem em piadas parecidas o tempo todo e, como já ressaltado, acaba despertando uma irritação natural. Ele é chato, ela é obcecada por algumas coisas -- como, por exemplo, falar que não vai ao banheiro para fazer as suas necessidades (?). Pois é. Muitas coisas não fazem sentido, nem são engraçadas. Mas a cineasta/roteirista continua insistindo, como se fosse para vencer só pelo cansaço.
Judith Chemla (A Vida de uma Mulher) e Arthur Igual (Um Amor Impossível) também não conseguem trazer carisma para os seus personagens. Acabam ficando num lugar-comum desconfortável e seus personagens demoram pra engrenar -- de fato, eles só funcionam na segunda parte dramática. Faltou experiência para a diretora modular os gêneros com maior delicadeza, para que assim os atores conseguissem entender melhor os caminhos de suas interpretações. Ficam perdidos em grande parte do filme.
Há, também, uma receita de road movie que não faz sentido algum. Vários personagens surgem, fazem pequenas alterações na rota dos protagonistas, e acabou. Não parece haver um engrandecimento na jornada que eles traçam. A maioria é perda de tempo.
No entanto, quando o drama começa a tomar conta, as coisas ficam mais em ordem. Há uma abordagem interessante sobre os horrores da Segunda Guerra Mundial, partindo para algo mais intimista, familiar. É interessante notar como crimes como os cometidos naquela época ainda reverberam em pessoas, comportamentos, famílias. É algo que, felizmente, Minha Lua de Mel Polonesa sabe retratar muito bem. E, assim, acaba ganhando preciosos pontos ali nos 30 minutos finais. Ah, se o filme fosse todo assim!
Mas, infelizmente, não o é. Na maior parte de seus 88 minutos, o espectador precisa enfrentar um festival maçante de piadas repetidas e sem graça. E personagens chatos, vale ressaltar esse ponto de novo. Ao final, a experiência foi tão conturbada, que os pontos positivos acabam sendo soterrados. É uma pena, realmente. Se tivesse sido conduzido de outro modo, mais sutil e inteligente, Minha Lua de Mel Polonesa seria um daqueles filmes para ser lembrado. Do jeito que ficou, porém, será esquecido logo, logo.
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