Não dá para negar: Milagres do Amor, drama turco que chegou ao Brasil via Cinema Virtual, é muito bonito. Difícil não se emocionar com a jornada de superação potente que o diretor Mahsun Kirmizigül (do estranho Terrorismo em Nova York) traça para seus dois protagonistas -- mesmo que a narrativa seja cheia de familiaridades. No entanto, uma pena: a didática põe tudo a perder.
Na trama de Milagres do Amor, conta-se a história do casal Aziz (Mert Turak) e Mizgin (Biran Damla Yilmaz). Cansados do preconceito que vivem e presenciam na cidade em que moram, decidem se mudar para uma cidade mais progressista, sempre com a ajuda do professor Mahir (Fikret Kuskan). É o momento, assim, para refletirem sobre vida e se adaptarem à nova cultura.
É, enfim, a continuação de um longa-metragem de 2015 e que serve como uma introdução à essa história. No entanto, vale dizer: o primeiro filme é totalmente dispensável no entendimento.
A partir daí, Kirmizigül tece uma trama afável, que faz um carinho no espectador, sem nunca pesar demais as tintas ou exagerar no tom de superação. Os personagens são carismáticos e, acima de tudo, empáticos. Isso acaba facilitando a conexão entre espectador e obra, fazendo com que os vínculos fiquem escancarados sem perda de qualidade total da produção turca.
Além disso, vale destacar o cuidado do roteiro com a jornada do protagonista -- que conta com algum tipo de deficiência. Seus percalços são reais e emocionantes, assim como suas conquistas. Um tipo específico de público que entende e se identifica com o que Aziz passou, sem dúvidas, vai ter nessa jornada um espelho de suas próprias dores e alegrias. É um acerto.
No entanto, uma pena, o filme erra quando começa a ir além. Ao tentar se aprofundar na personalidade do casal, Kirmizigül acaba caindo na armadilha mais perigosa nesse tipo de filme: o excesso de didática. Como se os espectadores fossem crianças, o diretor pega o público pela mão e começa a tentar guiar as pessoas pelos meandros dos pensamentos e dores do casal.
Por fim, há a sensação de que no meio desse turbilhão de didática há também uma repetição exagerada de temas, sequências e segmentos. Em determinado momento das mais de duas horas de projeção, a sensação era de que a história estava em um looping profundo e estranho. Infelizmente, isso mostra problemas de narrativa, já que havia material para mais história.
A sensação, no final, é de que Milagres do Amor poderia ser um dos filmes do ano. O elenco é bom, a história tinha potencial, a premissa é emocionante. No entanto, a possível falta de experiência dos envolvidos com dramas mais profundos e complexos acabou entregando uma conclusão apressada, prejudicada pelo excesso de didática. Ainda assim, porém, vale conferir.
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