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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Mil Cortes' mostra resistência ao autoritarismo nas Filipinas


Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte é uma espécie de Jair Bolsonaro piorado, se é que isso é possível. Autoritário e populista, ele usa a bandeira da guerra às drogas para promover uma verdadeira caçada aos mais pobres, geralmente usuários ou pequenos traficantes, matando livremente em todo o país. É uma espécie de genocídio, praticado ali sem qualquer represália.


Esse é o ponto de partida da narrativa de Mil Cortes, documentário que faz parte da programação oficial do É Tudo Verdade 2021. Dirigido e roteirizado por Ramona S. Diaz (Motherland), o longa-metragem quer falar sobre esses abusos de poder e, para isso, foca na vida e rotina de Maria Ressa, uma jornalista combativa e inteligente de um veículo independente.


Dessa forma, ao longo de cerca de 90 minutos, acompanhamos essa mulher e seus colegas tentando exercer o direito de imprensa livre em um país em que o presidente fala sobre matar jornalista como um passo natural após a morte de viciados e traficantes. É uma narrativa forte, desesperado até para nós, jornalistas. Dá medo do que o futuro nos reserva, no Brasil e Filipinas.

Interessante notar os meandros da política no país asiático, assim como perceber como Duterte e seus aliados agem de forma extremamente semelhante ao que faz Bolsonaro no Brasil -- as piadas de cunho sexual, a diminuição da dor de um estupro, o desprezo por homossexuais e coisas do tipo. Mostra que, claramente, esse fenômeno populista vai além do resultado de urnas.


E é nisso que Mil Cortes falha. Ramona teve uma oportunidade de ouro em explorar as fragilidades da democracia a partir desse populismo barato que chega ao poder -- pegando de gancho, inclusive, a fala de Ressa que dá título ao documentário, falando que a democracia está moribunda, com mil cortes no corpo, sangrando. O que fez com que Duterte chegasse ao poder?


Essa questão mais profunda e analítica, assim, dá lugar ao factual, ao atual, ao que está acontecendo agora -- no caso, a perseguição à Ressa e seus colegas. Ou seja: sem dúvida, Mil Cortes poderia ser um daqueles filmes que vai além, em busca de compreensões além da camada social que todos enxergamos. Mas tudo bem. Ainda assim, é um filme potente.


A história de Ressa é cativante e é difícil desgrudar da tela e não se preocupar com a jornalista. Interessante, assim, acompanhar os rumos das Filipinas com mais atenção, vendo como o governo de Duterte está se comportando e vai se comportar em eleições próximas. Tudo, hoje em dia, está conectado. Trump já caiu fora. Agora, Duterte e Jair Bolsonaro estão na mira.

 
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