Recentemente, o Esquina foi na contramão do que a maioria dos sites estava falando sobre Licorice Pizza, longa-metragem mais recente de Paul Thomas Anderson. Apesar de seus acertos claros e genuínos, não dava pra passar pano para a relação dos dois protagonistas -- uma maior de idade com um menor de idade. A maioria das pessoas fechou os olhos para isso e aceitou. Agora, mostrando consistência, outro filme comete o mesmo erro: a estreia Mi Iubita, Meu Amor.
Estreia desta quinta-feira, 29, o filme é a estreia da atriz Noémie Merlant na direção de um longa. Aqui, ela comanda a história de Jeanne (vivida por ela mesma), uma jovem francesa que vai com as amigas para uma despedida de solteira na Romênia. Lá, porém, o carro do grupo é roubado com todos os pertences dentro. A saída? Ir até a embaixada? Dormir em um hotel? Não: aceitar a oferta de um grupo de ciganos, que falam francês, para dormir na casa deles.
A partir daí, nasce uma paixão inesperada entre Jeanne e Nino (Gimi Covaci). Ela tem 30. Ele, menor de idade, tem 17. Merlant mostra habilidade na direção do longa-metragem ao contar essa história de amor. Não só a fotografia de Evgenia Alexandrova, que passa toda essa aura solar de uma paixão proibida de verão, como também as cenas em que Merlant passa toda a liberdade da história. É potente e, quem deixar se levar pela estética, vai ficar embasbacado.
O problema mesmo, novamente, está na história. Mi Iubita, Meu Amor trata a relação de uma maior de idade com esse rapaz de 17 anos com toda a pompa e naturalidade, como se fosse comum e razoável. Não é e não pode ser. Há um problema a mais do que é visto em Licorice Pizza, ainda por cima: enquanto o filme de Paul Thomas Anderson trata do deslumbramento de um adolescente com sua nova paixão, este novo filme trata do deslumbramento de Jeanne.
Como cereja do bolo, ainda por cima, Mi Iubita, Meu Amor se vale da história desses personagens ciganos apenas como ponto de partida do que está sendo contado sobre as francesas. Eles são apenas trampolim, sem qualquer desenvolvimento decente de suas histórias. Fica, então, esse gosto amargo na boca, sem qualquer compensação. E, de novo: não dá para morrer de amor com uma história que está errada em sua essência. Não dá.
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