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Quando visitei o set de Meu Sangue Ferve por Você, esperava encontrar uma produção que fosse uma cinebiografia convencional sobre o cantor Sidney Magal. Mas o que encontrei lá, e contei em uma matéria para o Estadão, foi um filme de romance. Paulo Machline, o diretor, disse na tal visita que entrega "os maiores sucessos do Magal, mas também uma história de amor que é desconhecida do grande público". E é bem isso que vimos na sessão da Mostra de São Paulo.
Exibido logo após a sessão de Saudosa Maloca, o longa-metragem se concentra em um período bem específico da vida de Magal: o nascimento do amor entre ele e sua parceira de uma vida toda, Magali. O longa-metragem, assim, não se propõe a ser exatamente um filme que fala sobre nascimento e vida do cantor de Sandra Rosa Madalena, mas sim mostrar um pouco sobre a sua personalidade a partir de como lidou com esse relacionamento, literalmente, à primeira vista.
É interessante ver esse recorte divertido e inusitado, que consegue despertar emoções distintas -- um senhor de idade, que estava sentado na minha frente na sessão, se debulhou em lágrimas ao longo da exibição. Há a empolgação das músicas de Magal, que vão surgindo aqui e acolá, assim como a torcida para que o relacionamento do cantor (Filipe Bragança) com a sua amada (Giovana Cordeiro) consigam engatar um relacionamento, apesar da sogra (Emanuelle Araújo).
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Bragança (Dom, Órfãos da Terra) às vezes está um pouco over demais, um pouco exagerado, mas funciona nesse contexto de um Magal empolgado por encontrar o amor de sua vida. Giovana Cordeiro está bem, melhor do que Bragança, mas há um problema central: ela faz uma baiana, mas é carioca. Força demais o sotaque. Pergunto: pra que? Não seria mais fácil e lógico escalar uma atriz realmente baiana? Esse forçado sotaque acaba tirando um pouco do filme.
O grande destaque do elenco acaba sendo Sidney Santiago, que interpreta Renan, tio de Magali e que a ajuda nas suas escapadas. Está engraçado, descontraído e absolutamente natural.
O que mais atrapalha na experiência toda, porém, são as cenas musicais. Por algum motivo que me foge, Machline adicionou três cenas musicais -- aquelas em que a realidade para por um instante para cantar e dançar -- que não fazem sentido algum. Causam constrangimento mesmo. A primeira, por exemplo, toca Sandra Rosa Madalena em uma pegada mais moderna, até com um toque de funk, e parece que é algo separado do filme. Deu vergonha alheia mesmo.
Meu Sangue Ferve por Você acaba apresentando uma considerável instabilidade, com atuações nem sempre concretas e com essa falta de foco com as sequências musicais. Ainda assim, empolga e emociona: afinal, as músicas de Sidney Magal são realmente boas, dão vontade de dançar e a história de amor é realmente boa. Faltou apenas um pouco mais de noção do que o filme deveria ser (um musical? romance brega? uma comédia romântica?). Mas vale assistir.
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