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Crítica: 'Meu Nome é Maria' é filme importante, mas que derrapa

Foto do escritor: Matheus MansMatheus Mans

Confesso que fui assistir a Meu Nome é Maria sem saber muita coisa. Melhor: sabia nada. Fiquei bastante impactado quando, nos primeiros minutos, entendi que era um longa-metragem contando a história de Maria Schneider, a atriz francesa que foi estuprada por Marlon Brando nos bastidores de Último Tango em Paris. Estreia desta quinta-feira, 27, o filme é bom, mas nunca se decide. É cinebiografia? É filme-denúncia? Não há qualquer compreensão nesse ponto.


Dirigido Jessica Palud (Revenir), que trabalhou como gerente de locações em Os Sonhadores, de Bernardo Bertollucci, o diretor do filme com Schneider e Brando, Meu Nome é Maria decide contar a história de Schneider a partir do ponto específico em que ela decide se tornar atriz.


Não há exatamente uma história sobre seus gostos, suas histórias, seus objetivos, seu medos. Há uma pincelada sobre a relação conturbada dela com a mãe -- e só. De resto, Palud parece se contentar em fazer esse recorte de mostrar uma atriz empolgada com seu futuro, passando pelo abuso sofrido em Último Tango em Paris e chegando em um futuro marcado pelo assédio.



Isso é o que mais incomoda no filme. Mais do que ser uma celebração de Maria para além do fato que a acompanha, o longa-metragem repete o estigma. Se fosse um filme-denúncia, tudo bem. Mas Palud nunca se decide e a produção fica se equilibrando em ser uma cinebiografia.


Nessa indecisão, Meu Nome é Maria comete o erro fatal de repetir estereótipos que se perpetuaram na imagem de Schneider. Não há nada de novo: o abuso se torna a mácula; não há vida além. É como se isso fosse toda sua vida, nunca encontrando algo novo para contar.


Filme horrível, terrível, errado? Não chega a tanto. Há um claro erro de cálculo de Palud nesse retrato de Maria Schneider, principalmente com esse equívoco em não se decidir, mas há acertos aqui. O bom trabalho de Matt Dillon como Brando, boa recriação de época e, acima de tudo, o ótimo trabalho de Anamaria Vartolomei (Mickey 17) como a ferida Maria Schneider.


Só fica a sensação, no final, de oportunidade perdida -- com bons cenários e atores, a história poderia ter ido além. Fica um gosto amargo na boca, mas pelo menos há um reconhecimento no cinema, de Palud, pelo menos, desse fato história terrível e que mancha o cinema.

 

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