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Bárbara Zago e Matheus Mans

Crítica: Mesmo sem grandes momentos, ‘Artista do Desastre’ surpreende


Ninguém sabe ao certo quem é Tommy Wiseau. Misterioso e dono de personalidade forte, ele nunca revelou a sua origem ou de onde tirava dinheiro pra viver. Tommy, porém, sempre deixou claro que tinha um sonho a ser perseguido: ser um astro do cinema. Para isso se concretizar, escreveu, dirigiu, produziu e protagonizou o longa The Room, que chegou aos cinemas em 2003 e se tornou, aos poucos, um clássico cult conhecido pela sua péssima qualidade.

É essa história que o longa Artista do Desastre, dirigido pelo também ator James Franco, tenta contar. Entrando nos bastidores deste estranho filme, acompanhamos o nascimento da amizade entre Tommy Wiseau (Franco, que faz uma imitação perfeita) e Greg Sestero (Dave Franco, num arroubo nepotista) e as consequências dessa amizade -- ou seja, o surgimento da ideia e da gravação de The Room. É um filme de bastidores misturado com homenagem.

O resultado, como esperado, é divertidíssimo. Apesar de fazer mais sentido para quem já assistiu ao filme de Wiseau, Artista do Desastre tem um roteiro cuidadoso que desenvolve a ideia aos poucos -- primeiro, o encontro de Tommy e Greg; depois a mudança para a cidade de Los Angeles; e, só então, a criação de The Room. É um começo contextualizador que ajuda a entender como Wiseau funciona e a compreender melhor o que virá a acontecer na história.

E quando a história acontece, é impossível não se entusiasmar. Os acontecimentos dentro dos bastidores são deliciosos e muitas sequências rendem verdadeiras gargalhadas -- como a já clássica cena em que Wiseau esquece suas falas repetidas vezes e termina com um estranho “hey, mark!”. Nada ali em The Room faz sentido e isso é maravilhoso para o filme de Franco, que sabe aproveitar os bons momentos da história original e do relatos de Greg Sestero.

Como já foi visto em O Instituto e em Som e Fúria, James Franco não é um diretor com uma criatividade exuberante. Pelo contrário: Franco é comportado, quase formulaico. Conta as histórias sem grandes planos ou sequências. Aqui, no entanto, isso funciona com dignidade: todas as cenas recriadas são filmadas do mesmo ângulo e com o mesmo timing cênico de The Room. A falta de arroubo criativo de Franco, aqui, acaba virando uma bela homenagem à Wiseau.

Quanto às atuações, quase tudo funciona. Franco encarna Wiseau de maneira impecável, com gestual e modo de falar idênticos ao cineasta. Só fica a dúvida se é imitação ou uma atuação. E essa dúvida, junto com os vários relatos de assédio, devem ter tirado Franco do páreo de Melhor Ator no Oscar. Dave, o irmão, está bem e com bons momentos dramáticos. Ele funciona como Greg Sestero e dá força para a história. Finalmente, um nepotismo que deu certo.

As participações especiais também são divertidas, ainda que não acrescentem em nada ao filme. Só fica um questionamento: cadê o Wiseau verdadeiro? Li, em algum lugar, que Franco filmou uma cena de Artista do Desastre com o cineasta, mas acabou descartando na edição. Faltou humildade. Tommy é peça central e merecia ter uma participação -- aliás, a falta de humildade de Franco já ficou clara no Globo de Ouro, quando não deixou Wiseau falar no palco.

O final, numa boa junção de roteiro inteligente e direção cuidadosa, ajuda a misturar vários sentimentos e termina numa nota positiva. A sensação final é que Artista do Desastre é um bom filme de homenagem ao pior longa da história. Tem bons momentos, boas atuações e um roteiro interessante. Mas concordo com a Academia: não merecia uma vaga em Melhor Filme ou Melhor Atuação. Faltou inventividade. De resto, é uma das melhores comédias do ano.

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