Foi em 2018, quando Megatubarão chegou aos cinemas, que tive uma das conversas mais legais com o saudoso crítico de cinema Rubens Ewald Filho -- um dos nossos maiores. Estávamos esperando para entrar na sala de cinema para assistir ao filme quando a assessora de imprensa anunciou que seriam duas salas: uma com exibição em IMAX, outra no chamado "cinema 4D", que espirrava água e mexia a cadeira. Eu e Rubens fomos um dos poucos que rumamos para a IMAX -- foi quando ele disse que queria só assistir a uma bobagem, não virar parte daquilo. No final, quando estávamos indo embora, lamentou: "o filme não é nem mesmo uma bobagem".
Cinco anos depois, Rubens não está mais aqui -- mas acredito que ele constataria, com tranquilidade, que Megatubarão 2 é exatamente a bobagem que estávamos procurando em 2018. Agora dirigido por Ben Wheatley (de filmes divertidos como Free Fire e Turistas), o longa faz o que o outro não conseguiu: entende que sua história não faz sentido algum e, precisando ser maior por ser uma sequência, abraça o bizarro e o absurdo em um filme de comédia.
Sim, isso que você leu: Megatubarão 2 não é exatamente um filme de ação, mas um filme de comédia -- uma comédia de ação, para ser mais específico. Afinal, as sequências de "tiro, porrada e bomba" estão ali, presentes de maneira constante nas quase duas horas de projeção, mas parece que este não é o foco do filme. Depois dos primeiros 30 minutos, quando Jonas Taylor (Jason Statham) e sua equipe ficam presos no fundo do mar, o filme larga mão do thriller de sobrevivência para se tornar um amontoado (bem feito!) de referências ao cinema trash.
Tem de tudo por ali: não só toma espaço para referenciar Tubarão e Jurassic Park, mas também Tubarão 2. Não chega a ser um Sharknado, que tem tubarões voando em tornados ao redor do mundo, mas belisca essa essência. Prova disso são as cenas absurdas que surgem a partir da metade do segundo ato, quando Wheatley larga mão de tentar assegurar a história em criações como trajes poderosos: Statham segura um tubarão com o pé, voa de jet ski e nada a milhares de metros no fundo mar -- sem qualquer tipo de proteção contra a pressão absurda por ali.
É uma ópera bufa, que tenta tirar o espectador de sua zona de conforto o tempo todo justamente abandonando a ação para abraçar o cômico. Obviamente, o roteiro não é bom: há excesso de explicação, de didatismo, e se atrapalha quando tenta contar algumas coisas. Isso, nos primeiros 30 minutos, te tiram do filme. É, afinal, quando Wheatley parecia querer seguir o caminho sério.
O fato é que, no final, Megatubarão 2 consegue ser mais provocativo do que aparenta: em tempos em que as pessoas querem coisas cada vez mais verdadeiros (como o fenômeno já insuportável do true crime), é legal ver um filme estrear com tanto absurdo e bizarrice. Foge do padrão e entrega aquilo que a gente mais quer: diversão sincera. Algo cada vez mais difícil em um mundo em que tudo é orquestrado em seus mínimos detalhes e que fica sempre mais chato.
Megatubarão 2 rompe fórmulas e quebra a expectativa. Pode ser um filme ruim em sua superfície, mas há algo de corajoso no que Wheatley fez por aqui. Vale assistir de peito aberto.
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