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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Meditation Park' é filme empoderador com trama banal


Em uma primeira olhada, o filme Meditation Park não é grande coisa. A trama, que acompanha a história da dona de casa Maria Wang (Pei-pei Cheng), já foi vista em uma dezena de outros filmes. É a mulher submissa ao marido, aqui bem interpretado pelo ótimo Tzi Ma, que não consegue encontrar seu lugar no mundo -- ainda por conta das atitudes do marido, que trai e a trata como uma merda serviçal. No entanto, indo além, o longa-metragem possui qualidades admiráveis como uma força empoderadora, personagens femininas fortes e um arco de desenvolvimento da protagonista admirável.

Tecnicamente, Meditation Park possui alguns problemas visíveis, principalmente no que diz respeito ao roteiro de Mina Shum, que também é diretora. Muitas das coisas no longa são ditas, não mostradas. Há exposição em excesso de personagens. Na cena de um jantar, por exemplo, os personagens quase narram suas experiências de vida sem motivo algum. É como se você, leitor, começasse a falar suas façanhas de vida durante um jantar com sua família. Alguém ia entender alguma coisa? Faria algum sentido isso?

Além disso, o filme possui uma série de personagens coadjuvante que não chegam em lugar algum. As amigas chinesas de Maria, que inclusive estampam o pôster, servem apenas para uma ou outra situação. Alguns podem até argumentar que elas servem como catalisadores da transformação da protagonista, mas não fica claro no roteiro -- que, depois de tanta exposição e didatismo, tenta ser sutil como um elefante. O mesmo vale para um drama de um vizinho da personagem. Serve para um único propósito.

Mas passado esses problemas, o filme possui destaques positivos. Primeiro, o elenco. Pei-pei Cheng (O Tigre e o Dragão) é conhecida por ser uma mestre nas artes marciais, mas aqui vai além. Ela entra de cabeça no drama doméstico da personagem, que deixa o sofrimento transparecer através da tela. Tzi Ma (A Chegada) ajuda muito nesse sentido, construindo um personagem odiável, mas muito real. Grande ator. Já Sandra Oh (Grey's Anatomy) é apenas uma coadjuvante de luxo. Não tem material ali.

O grande ponto central, como já citado, é o desenvolvimento de Maria. A personagem de Pei-pei é forte, humana, e possui atitudes completamente racionais, dosadas, ainda que por vezes explosiva. É fácil entender sua dor, acentuada pela cultura machista na qual ela foi criada. Isso enriquece o filme, adiciona camadas fáceis à construção da protagonista e faz com que o longa-metragem se diferencia num mar de outras produções sobre mulheres podadas pelo marido e que buscam florescer, finalmente.

Assim, Meditation Park é um filme banal, com erros técnicos claros, mas que tem uma força impressionante concentrada em seus dois atores principais -- principalmente Pei-pei Cheng. É um filme que, daqui algum tempo, vai se perder na memória por ser apenas mais um na multidão. No entanto, será fácil lembrar especificamente da personagem de Maria Wang. Forte, mas aterrorizada pelo marido, ela é um exemplo da força feminina no século XXI. Por mais que seja uma senhora na terceira idade. Afinal, empoderamento não tem data, origem, etnia. É uma força que atravessa barreiras -- e filmes.

 

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