Indo contra a maré, não gosto de X: A Marca da Maldade. Acho um filme bobo, quase juvenil, em que o diretor Ti West sufoca sua própria trama com referências, sem nunca ter coragem de assumir o que é seu filme. O Massacre da Serra Elétrica se torna seu Santo Graal, mas nunca se assume de fato como slasher. Fica com medo. Isso, felizmente, foi superado em Pearl, um filme muito mais maduro, interessante e que sabe como brincar com signos cinematográficos de fato.
Por isso, confesso que fui assistir a MaXXXine, estreia desta quinta-feira, 4, com empolgação. Eu esperava que West concluísse sua franquia mais amadurecido, bebendo bastante da ousadia criativa e estética de Pearl, e se afastando da bobagem que é X. Mas não: neste terceiro e último capítulo da franquia, o cineasta morre abraçado com suas referências, sem contar uma história.
O que existe aqui, afinal, é apenas um pano de fundo: Maxine (Mia Goth) retorna seis anos depois dos acontecimentos de X. Está obviamente traumatizada, mas quer seguir carreira no cinema, se afastando como pode da pornografia. Nessa busca, acaba sendo selecionada para ser a protagonista de um novo filme de terror. É, enfim, o destino que ela sempre sonhou.
O grande problema surge quando um assassino misterioso, com luvas de couro e rosto escondido por uma meia, começa a matar as pessoas ao seu redor. Como sobreviver? É nessa busca e ideia que Maxine se move, enquanto personagem e enquanto cinema, tentando mudar de vida ao mesmo tempo em que o mundo a persegue. A morte, aqui, não é uma opção.
West volta a falar sobre o tema que lhe é caro: a crueldade com a busca pela fama. Não é à toa, claro, que MaXXXine começa com a célebre frase de Bette Davis de que "até que você seja conhecido na minha profissão como um monstro, você não é uma estrela". É isso que norteia a trilogia X e, principalmente, tudo que há ao redor de Maxine: sua ambição, ideias e monstros.
A grande questão, porém, é que esse assunto já parece um tanto esgotado: já foi falado sobre isso em X e Pearl, principalmente, lidou com isso de maneira magistral. MaXXXine, no final das contas, não sabe como ir além na conversa. A diferença mora nas referências que West usa aqui: passa a ter mais a ver com o giallo, Pânico e Psicose (com uma cena terrível, aliás).
O novo longa-metragem da trilogia X fica, assim, soterrado por referências e nunca consegue escapar disso para dizer algo de novo. Há uma tentativa de falar sobre como Hollywood é pudica quando quer, mas não vai além. Talvez a única novidade more nos 20 minutos finais, quando somos apresentados à identidade do tal assassino e West, de maneira torta, tenta falar sobre um problema que aflige o cinema há décadas, mas acaba recaindo em outro sentimento.
O filme se torna brega, bobo, confortável. Maxine não é mais vítima de Hollywood, mas vítima do sistema que trabalha contra a indústria do cinema. O discurso de West fica confuso, até mesmo atravessado, e ninguém entende nada: a protagonista ainda está longe de ser uma estrela e, do nada, sem motivo algum, se torna tão vítima quanto todo o resto. Parece que West, em sua ânsia de concluir o filme de maneira grandiosa, não percebeu essa armadilha. Caiu feito pato.
Mia Goth continua muito bem, brilhando no papel de Maxine. No elenco, também é preciso destacar o bom papel de Giancarlo Esposito como o agente bizarro da protagonista, que rouba a cena quando aparece, e principalmente de Kevin Bacon, emulando o personagem de Jack Nicholson em Chinatown. Também fica o destaque positivo para a fotografia, que sabe emular muito bem o clima de cinema dos anos 1980, com luz estourada e um desfoque exagerado.
De resto, difícil pinçar o que MaXXXine traz de bom. É um filme que começa bem, entregando clima e boas atuações, mas que se perde de maneira quase trágica. No final, Pearl se torna apenas um ponto fora da curva em uma trilogia que traz mais instabilidade sufocada por um punhado de referências do que boas histórias. É um cinema juvenil, que falta crescer.
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