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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Marvin' é delicado relato sobre vazio familiar e existencial


Muitos podem dizer que Marvin é um filme sobre a descoberta da sexualidade de seu protagonista e como ele enfrentou isso perante a sociedade, a família, a escola, os amigos e por aí vai. No entanto, sem dúvidas, esta é uma visão extremamente míope de um longa-metragem que vai além de rótulos e mostra, de maneira extremamente cruel e sensível, como o vazio existencial, educacional e familiar impacta a vida de cada um.

No caso do novo longa-metragem de Anne Fontaine (dos ótimos Gemma Bovery e Agnus Dei), a vida em interpretação é a de Marvin Bijou (Finnegan Oldfield/Jules Porier), um rapaz que, desde pequeno, sente atrações por outros meninos e não consegue externá-las. Além disso, ele enfrenta pouco apoio da família e se vê num ambiente educacional hostil. A coisa só muda quando mais velho ao encontrar no teatro seu espaço e vocação.

Fontaine é ótima para comandar dramas inspiradores e que mostram aspectos obscuros da vida das pessoas -- em Gema Bovery, por exemplo, o desejo e a traição, em Agnus Dei, a impotência social. Em Marvin, há um estudo de personagem estupendo, onde aspectos e detalhes da vida do protagonista vão sendo pincelados por meio de cenas, olhares, diálogos e atuações bem encaixados e que não são jogados no vazio.

Para isso, Fontaine, em parceria com o corroteirista Pierre Trividic (L'autre), joga no ponto mais arriscado e cria uma costura temporal entre a infância e o presente de Marvin. É a maneira que encontraram de mostrar o vazio do protagonista quando criança e como isso acabou sendo compensado no início da sua vida adulta, quando o teatro se tornou um córrego para soltar todas as emoções, medos e desejos que foram represados.

Só que com essa narrativa, prejuízos acabam emergindo. O primeiro é a diferença de intensidade em cada uma das fases da vida de Marvin. É muito mais interessante o período da infância, quando o protagonista é brilhantemente interpretado pelo estreante Jules Porier. Há mais intensidade e verdade na sua história, além de ter muito mais espaço dentro do que acontece em sua vida no período. E, infelizmente, algumas dessas coisas acabam ficando de fora para privilegiar o período principal, de Finnegan Oldfield.

Oldfield (A Vida de uma Mulher) é bom, sabe encarnar seu personagem, mas falta algo. Talvez a intensidade que Porier conseguiu empregar em sua parte ou, ainda, a força que a família consegue empregar à história, cheia de diálogos atuais e cruéis, e que dão tanto gás à narrativa -- e que, infelizmente, são abandonados na parte de Oldfield. É uma mudança de história muito dura, sem freios, e que acaba incomodando quem vê o filme.

Mas vale ressaltar, porém, que é um problema de roteiro. A direção de Fontaine, novamente, se mostra atual, relevante e extremamente precisa. Histórias não são contadas sem sentido ou sem motivo em seus filmes, sempre trazendo aspectos metafóricos dentro de suas construções. Desde a ambientação e indo até a forma de enquadramento,

 
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