A história de João e Maria, clássico do folclore mundial, já ganhou adaptações dos mais variados tipos. Já foi um filme de ação genérico, já foi contada da maneira tradicional e até mesmo já foi reinterpretada pelos coreanos. E agora ganha mais uma versão, com estilo moderninho, simbologia onipresente e um visual estilo Hereditário. É Maria e João, estreia desta quinta, 20.
Dirigido pelo talentoso Oz Perkins, filho de Anthony Perkins e diretor do ótimo Fevereiro, o longa-metragem tenta imaginar o conto dos dois irmãos que ficam perdidos na floresta à luz dos nossos dias. Ainda que se passe numa era medieval, com peste negra e coisas do tipo, Maria e João traz discussões atuais e tenta fazer com que a clássica história fale com o público.
Este é, sem dúvida, o maior acerto do longa-metragem, que acerta na forma e na visão de enxergar a história. A simbologia, inspirada no movimento de "pós-terror" liderado por Robert Eggers e Ari Aster, toma conta e chama a atenção -- o excesso de triângulos, o posicionamento da câmera, a fotografia escura de Galo Olivares. Tudo trabalha numa única direção e sentido.
Sophia Lillis (IT: A Coisa), que se parece cada vez mais com uma jovem Amy Adams, entende o seu papel e coloca toda a complexidade da personagem que carrega o mundo nas costas -- precisa cuidar do irmão menor, lidar com a bruxa, sobreviver. A bruxa, aliás, está excelente nas mãos de uma transformada Alice Krige (O Príncipe de Natal). Difícil reconhecê-la ali.
Aí você, leitor, me pergunta: se são tantos positivos, por qual motivo o título é tão negativo? Eis a resposta: apesar da boa vontade de todos os envolvidos, e das boas ideias, a execução beira o patético. A história roteirizada por Rob Hayes (East Meets Barry West) anda em círculos, tentando achar o fio da meada, mas não consegue. A sensação é de que o filme não sai do lugar.
Depois que João e Maria chegam à casa da bruxa, quase nada acontece. A única coisa é que Hayes tenta resolver e amplificar uma mitologia que ele próprio cria, mas nunca tem impacto ou faz sentido. A sensação é de que o cerne da história está ali, perdido em algum lugar, enquanto Perkins faz malabarismos estéticos e Hayes tenta criar sua própria mitologia do conto clássico.
Fica uma sensação de tempo perdido e artificialidade. Depois dos 25 minutos iniciais, a única coisa realmente boa são os 5 minutos finais, quando o roteiro tem uma sacada inteligente e põe os protagonistas numa outra posição. O problema é que o meio do caminho entre o começo promissor e o final inteligente é árduo, cansativo e sonolento -- vá sem sono para a sessão!
É uma pena. Maria e João poderia ter potencial de reinventar o gênero de contos de fadas nos cinemas, trazendo uma atmosfera mais pesada e histórias mais próximas das versões originais das fábulas. Mas, mais uma vez, a realização se perde no meio do caminho. E o resultado é um filme frustrante, pretensioso e que não deve agradar a maioria do público nos cinemas.
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