Cansada da vida solitária que leva, Maria (Lília Cabral) sonha em encontrar um verdadeiro amor. Prometida pelo pai para ser entregue virgem a São Djalminha, um santo de quem ninguém nunca ouviu falar, só mesmo um milagre poderia ajudar a esperançosa solteirona. No entanto, a única certeza que Maria tem é que, custe o que custar, ela precisa desencalhar e sair de uma vez dessa vida bizarra e oprimida.
Esta é a trama de Maria do Caritó, filme dirigido pelo estreante João Paulo Jabur. Baseado numa peça que ficou anos em cartaz -- com a própria Lília Cabral (Divã) interpretando a marcante personagem. Por isso, logo de cara, fica evidente como a veterana atriz está confortável no filme. Ela compreende bem a personagem e não demora a entrar no papel. É fácil para o público sentir empatia pela protagonista.
O problema é que, de resto, falta qualidade. Por mais que o elenco, no geral, esteja bem, o roteiro e a direção patinam. As coisas são bagunçadas e pouco é explicado. Obviamente, este não é um longa-metragem para ter extensas explanações sobre trama. Mas poderia ser mais organizado. Por exemplo: o filme todo tem uma pegada de época, como se fosse antes dos anos 1990. Mas são cantadas músicas bem atuais.
Além disso, algumas reviravoltas são forçadas e a relação de alguns personagens são inexplicáveis. Falta um pouco mais de aprofundamento na trama como um todo.
No entanto, apesar dessa bagunça, há de se destacar duas coisas: a boa atuação do restante do elenco e a ambientação impecável, fruto de uma direção de arte minuciosa. Como há tempos não se via, Maria do Caritó sabe criar um nordeste idílico, quase fabular, que encaixa como uma luva na jornada de Maria do Caritó. Difícil não se encantar com alguns detalhes e com a boa fotografia, de um tom azulado marcante.
Por fim, ressalta-se a atuação de Juliana Carneiro da Cunha (Vazante), o sensacional Fernando Sampaio (Pagliacci) e um irreconhecível Leopoldo Pacheco (Não Devore Meu Coração). Eles, assim como Lília Cabral, entram no personagem e ajudam a fazer a trama andar. As fragilidades técnicas, que deixam o filme mais próximo de uma novela do que um longa-metragem, acabam ficando em segundo plano. É um acerto.
Maria do Caritó é um filme bonitinho, simpático, e que no final tem uma boa mensagem. No entanto, a forma como chega até ali é bagunçada -- novelesco demais, com excesso de recursos dramáticos clichês, acontecimentos mal explicados. Não chegam a atrapalhar extremamente na experiência. Mas são sentidos. No final, assim, fica aquele gosto de filme passável. Dá pra se divertir e se emocionar. Nada muito além disso.
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