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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Máquina do Desejo' explora história do Teatro Oficina com precisão


Se existe um templo da cultura em São Paulo, este lugar é o Teatro Oficina Uzyna Uzona. Comandado por Zé Celso, o teatro é um ambiente de experimentalismo artísticos que acabam gerando boas reflexões políticas, sociais e até mesmo econômicas -- a própria existência do Teatro Oficina, oras, é uma forma de resistência ao caos especulativo na cidade de São Paulo.


Por isso é tão rica a oportunidade de mergulhar na história do Oficina com o documentário Máquina do Desejo, parte da programação oficial do É Tudo Verdade 2021. Dirigido por Lucas Weglinski e Joaquim Castro, a produção mergulha nas seis décadas de história do Teatro Oficina a partir de sua primeira ideia, as primeiras peças, o incêndio, o anarquismo do local e por aí vai.


Obviamente, há um tom provocativo e o filme, como deveria ser, não segue obviedades. Lucas e Joaquim brincam com as sensações do público o tempo todo, seja com uma edição esperta das imagens de arquivo, uma fotografia bastante sensorial, a falta de pudor em algumas sequências e a ausência de entrevistas quaisquer banais, com o entrevistado sentado na frente da câmera.

Assim como é a experiência de assistir uma peça no Oficina, vamos passeando por diferentes temas de maneira que parece nem ter coesão. Falamos de censura, do incêndio, de sexo, de nudez, de Silvio Santos, de arquitetura, de Zé Celso, de Moçambique. Tudo vai se aglutinando, se acotovelando. Enquanto isso, entrevistados de calibre vão emprestando sua voz pra narração.


Uma pena, porém, que o final Máquina do Desejo não siga o desbunde do Oficina -- lembrando, inclusive, peças mais recentes da trupe que não tem qualquer brilho. São imagens de arquivo apenas jogadas ali, sem muito contexto. Uma ou outra imagem de arquivo crua, sem nada mais. Trechos e mais trechos de Zé Celso protestando pelo Oficina. Importante, mas não vai além.


Teria sido interessante se Máquina do Desejo trouxesse um senso anárquico no final, com mais pontuações e uma reflexão embalada na própria existência do Oficina. Mas, infelizmente, os diretores param um passo atrás. E tudo bem. Ainda assim, o documentário é especial para quem também é apaixonado por aquele templo do teatro brasileiro, encravado na Jaceguai, 520.

 

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