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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Mamãe, Mamãe, Mamãe' é filme instável, mas emocional


Logo na primeira cena de Mamãe, Mamãe, Mamãe, uma criança com boia e óculos de natação chama a mãe, que está trancada no quarto. Ela não responde. Cansada de esperar, a menina resolve ir para a piscina por conta própria. Pula. Os segundos seguintes são dolorosos. Afinal, o espectador a ouve se afogar, sozinha, chamando pela mãe, que continua sem responder.


Ao longo dos próximos minutos deste emocionante longa-metragem de Sol Berruezo Pichon-Riviére, acompanhamos o luto. Mas não dos pais que não ouviram o momento do desastre, como Lars Von Trier retratou em Anticristo. Nada disso. Aqui, somos colocados no luto esquecido e abandonado da irmã da garota, Cleo, que precisa sofrer em silêncio enquanto a família sofre.


É um filme delicado, que ecoa uma história que o cinema argentino tem repetido em produções como Família Submersa ou, ainda, repetindo o estilo de Lucrécia Martel. É um filme intenso, um pouco seco demais em alguns momentos, que nos coloca diretamente nesse sentimento de perda. E mais: uma perda desamparada, já que Cleo tem apenas crianças como sua companhia.

Esse olhar diferenciado, tão difícil de se ver por aí, é o grande mérito de Pichon-Riviére — que, com certeza, deve ter algum parentesco com o grande psicanalista Enrique Pichon Rivière. Ela consegue emular a dor dessa menina na tela a partir de olhos, vazios, silêncios, ditos e não ditos. É um mergulho doloroso na psique da garota que precisa aprender a lidar com a morte.


Uma pena, porém, que o roteiro da própria cineasta se perca em devaneios. Ao tentar abraçar o mundo, deixa muita coisa de lado. Não adianta falar sobre luto e, ao mesmo tempo, ter a pretensão de mostrar início da vida sexual, menstruação e coisas do tipo. Isso não deveria estar aqui. Não cabe. Misturar assuntos, sempre, diminui a força da história. É isso que acontece aqui.


No entanto, ainda assim, Mamãe, Mamãe, Mamãe é um filme argentino interessante e emocionante. Ainda que instável e um pouco inchado demais, o longa-metragem traz um olhar diferente sobre o luto, sem nunca apelar ou exagerar, mostrando como o sofrimento tem diferentes facetas e presenças. Para ver, sentir e se inspirar, de uma forma ou de outra.

 

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