Confesso que comecei a assistir Maior que o Mundo, estreia dos cinemas desta quinta-feira, 18, empolgado. Ainda que o protagonista Kbeto (Eriberto Leão) seja essencialmente um chato, o filme traz uma história que é frequentemente vista na "literatura masculina": um bon-vivant que sai por aí transando, se drogando e que vive da literatura. Parece uma personificação de algum personagem de Bukowski. A coisa melhora quando a trama insere elementos de plágio. Parece que vai, finalmente, criticar essa mesmice. Mas, no final, é o filme que se torna mais do mesmo.
Dirigido por Roberto Marquez, o longa-metragem mergulha na história de Kbeto, esse escritor que vive uma crise criativa. No seu dia a dia, fica apenas usando drogas ao lado da amiga Mina (Luana Piovani), transando com a jovem Audra (Gabi Lopes) e bebendo no bar perto de casa. Só que aos poucos ele vai perdendo o controle, com as contas apertando e o dinheiro acabando. É aí que ele decide radicalizar: quando encontra um diário em uma caçamba, sobre um anão traficante, ele simplesmente plagia a trama. Publica como se fosse sua. O resto, então, é história.
Nesse momento, quando Kbeto decide plagiar o texto e é celebrado como um novo gênio, Maior que o Mundo ganha um impulso inesperado. Como disse lá no começo, fica a sensação de que a trama vai atacar diretamente esse tipo de história banal, corriqueira -- é como se estivesse se preparando para o momento certo para dar o bote no espectador. A atuação letárgica de Leão (Cabocla, Paraíso) faz com que essa sensação seja intensificada. "Oras, realmente o filme não pode estar se levando tão a sério, né?", me questionei, quando percebi essa ótima reviravolta.
Mas não. Logo depois desse momento que parece ser um ponto de virada para o longa-metragem, a história desanda. Marquez insere elementos exageradamente fantasiosos dentro da trama e continua se levando a sério. Não há a guinada irônica que tanto promete ali no segundo ato. Mesmo com Kbeto enfrentando um trio que parece saído de uma esquete (ruim) de humor, o filme nunca deixa de tratar tudo com uma sobriedade desconcertante. Qual o motivo? Fica difícil compreender exatamente o que o cineasta quer mostrar com essa história tão pobre.
A homenagem ao cinema Boca de Lixo, que surge cá e acolá com esses elementos exagerados, não vinga. A falta de história faz com que o filme caia em um limbo entre o ridículo, o farsesco e o irônico. E, uma pena, Maior que o Mundo termina sem qualquer personalidade, apenas ridicularizado por tentar ser algo que nunca alcançará, mesmo com um elenco que se esforça -- Luana Piovani está divertida, Gabi Lopes se mostra bem em cena. Poderia ter mais história, mais ironia, mais humor. Se levar tão a sério, em uma proposta narrativa como essa, não funciona.
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