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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Maestro', da Netflix, surpreende como um incomum fábula de amor


Pouco sabia sobre Maestro, filme original da Netflix e que terá uma breve passagem pelos cinemas a partir desta quinta-feira, 7, antes de sentar confortavelmente na poltrona e assistir ao longa. Sabia que era a biografia do maestro Leonard Bernstein. Sabia que era dirigido e protagonizado por Bradley Cooper (Nasce uma Estrela). Também que era uma produção com uma visão artística afiada. Mas não esperava, de jeito algum, que era uma história de amor.


Isso mesmo: uma história de amor. Maestro, afinal, não é como o brilhante filme Tár (a cinebiografia que não é uma cinebiografia) que foca exclusivamente nas habilidades musicais de Bernstein. Não quer ressaltar a genialidade de um nome da música como Amadeus ou, então, mostrar os bastidores atribulados de uma orquestra, como no genial Ensaio de Orquestra.


O foco aqui, ao longo de pouco mais de duas horas, é mostrar o relacionamento de Bernstein com Felicia Montealegre (Carey Mulligan). Os dois se conheceram em uma época em que Bernstein estava experimentando sua sexualidade ao máximo, conhecendo e saindo com todas as pessoas possíveis. Se apaixonou. Melhor: amou. Amor é aquele sentimento que perdura, mesmo sem paixão. A vida e as emoções de Leonard caminharam, o amor, porém, ficou.


É aí que entra toda a complexidade de Maestro. O filme trata de falar sobre esse amor que existe, que não é de mentira, mas que passa por uma provação complicada: os sentimentos de Leonard, que continua sendo um homem que ama se apaixonar. Mais do que isso: apesar do amor incondicional por Felicia, que nem sempre é clara para esses dois personagens, Leonard Bernstein é um homem que se apaixona por outros homens. Como lidar com tudo isso?

Cooper, em seu segundo crédito de direção após o sucesso de Nasce uma Estrela, escolhe não transformar isso em um dramalhão, tampouco em um filme que escancara suas emoções o tempo todo. Ele guarda muita coisa para o subentendido, para o que não é dito em momento algum, mas que acaba escapando em uma cena entrecortada e cheia de sombra; uma edição que parece atrapalhada, mas que esbanja sentimento; para uma frase não dita.


Em vários momentos do filme, me peguei lembrando de O Protetor 3. Não que os filmes tenham muito a ver — ou melhor, nada em comum em termos de história. Mas são dois filmes que pegam a bola correndo, em um ritmo alucinante, colocam no chão e falam: “calma, gente! Vamos com calma!”. O sentimento não precisa ser aflorado a todo momento e a história não precisa caminhar sempre pra frente. Cooper sabe que pode comer pelas beiradas, indo aos poucos.


O final é complexo, cheio de camadas. Há dor, mas também há um sentimento de livramento. A vida continua. O amor ficou. Mas e a paixão? Não é à toa a cor predominante no final do filme. Enquanto grande parte da história é amarronzada, quase bege, uma das últimas cenas em uma boate é banhada de rosa, de vermelho. Há libertação para algo que o protagonista sempre quis sentir, ainda que a dor continue por ali, nas cores pálidas que insistem em voltar.


Maestro termina numa nota altíssima. Há um exagero na lentidão, sim, mas a mensagem e o sentimento perduram. O filme valoriza a emoção em detrimento do ritmo. Pode ser difícil enfrentar as mais de duas horas da produção, mas a recompensa final é positiva. Há intensidade aqui, mesmo no marasmo. E eis a beleza do cinema, cada vez mais difícil de ser encontrada.

 

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