Assim como a ida para a universidade, o casamento e nascimento de filhos, a aposentadoria é um marco na vida de qualquer pessoa. É uma ruptura. Afinal, você deixa o mercado de trabalho para trás e abraça uma vida de ócio, geralmente, para aproveitar a terceira idade. Além disso, também é o momento em que a vida caminha para o fim. É o começo do fim para muitos.
Por isso é interessante o drama, as contradições e as complexidades mostradas no filme Madeira e Água, exibido durante a 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Alemão, o longa-metragem dirigido e roteirizado por Jonas Bak (One and Many) acompanha a história de uma mulher (Anke Bak) que se aposenta e, neste momento de sua vida, quer ficar com a família.
Só que as coisas não saem exatamente como ela espera. Ainda que as filhas apareçam em casa, para uma reunião em família na zona rural da Alemanha, o filho, que mora em Hong Kong, não chega. O trabalho atrapalhou, assim como protestos que tomam as ruas da região. Frustrada e sem nada para fazer graças à aposentadoria, essa mãe resolve partir numa viagem até o filho.
A partir daí, Madeira e Água entra em uma narrativa lenta e contemplativa, de forte caráter existencial, que fala sobre essa fase da vida da personagem. Assim como Pegando a Estrada, também da Mostra, não quer mostrar aonde uma família está indo, este longa-metragem alemão também não quer unir a personagem com o filho. Quer mostrar sua jornada pessoal.
Há bons diálogos e a atuação contida de Bak funciona bem na narrativa. No entanto, fica uma sensação de que tudo é exageradamente lento. Mesmo tendo apenas 1h19, a produção demora, avança devagar. Isso é bom em alguns momentos, principalmente quando há foco na solidão da personagem, mas o tempo todo é cansativo -- e olho que há espaço de sobra para bom ritmo.
Além disso, é interessante quando Bak avança para temas contemporâneos, como a pandemia do novo (velho?) coronavírus, assim como os protestos que tomaram de assalto Hong Kong. Mas são outras coisas que agregam pouco na narrativa, no final das contas. É ruim? De maneira alguma. Mas Madeira e Água, ainda assim, funciona como um bom exercício existencial.
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