Riko (Stefano Accorsi) é um homem, já na casa dos seus 40 anos, que começa a questionar a vida, o trabalho, as relações. A rotina já não parece mais tão interessante, a esposa parece estar tendo um caso e os amigos não ajudam no processo. No meio disso tudo, e com a idade pesando nas costas, ele começa a ter uma crise existencial fortíssima. É aí que tudo parece ruir ao seu redor, deixando-o sem qualquer sustentação.
Esta é a premissa de Made in Italy, longa-metragem italiano que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 28. O filme é quase o trabalho de um homem só. Ele é dirigido e roteirizado por Luciano Ligabue que, além de cineasta, também é cantor e compositor -- é dele o álbum Made in Italy, de 2016, que inspirou este longa. Assim, é um filme que tem muito de Ligabue e de seu disco homônimo em cada cena, cada acontecimento.
Fãs do músico, dessa forma, devem ter uma identificação melhor com o que se desenrola na tela ao longo de quase 100 minutos. A música do cantor/diretor/roteirista é evidente e a todo momento embala as desventuras de Riko. É, de certa forma, um complemento audiovisual ao que pode ser escutado e sentido na voz de Ligabue. Mas fica a dúvida se o resto do público, que não conhece o italiano, vai gostar do que vê.
Afinal, o filme tenta a todo momento ser um A Doce Vida, filme de Fellini que acompanha uma semana na vida de um jornalista mergulhado em forte crise. Aqui, há um humor com surge espontaneamente com esse paralelo -- Riko, na verdade, está longe de circular no mundo sofisticado de Roma e de ter a vida que Marcello Mastroianni injetou na tela. Mas é uma dualidade que cansa. Falta identidade própria à Made in Italy.
O protagonista, como na maioria dos filmes sobre crises existenciais, é chatíssimo e, de certa forma, bem retratado por Stefano Accorsi (Uma Viagem Chamada Amor). Mas falta o que A Doce Vida tem de sobra com Anita Ekberg: força nos personagens secundários para segurar a falta de empatia dos protagonistas. Sara (Kasia Smutniak), a esposa de Riko, é tratada de maneira rasa, quase machista. Não evolui a ponto de segurar o filme. Os amigos do protagonista seguem o mesmo caminho. Quase chegam lá, mas no final...
Além disso, Ligabue não é um bom diretor. Apesar de já ter dirigido os pouco conhecidos Da zero a dieci e Radiofreccia, ele não consegue criar uma história completamente coesa. Falta melhor organização dos fatos, melhor aproveitamento das subtramas. Tudo parece muito solto. Demora para o espectador conseguir embarcar na história. E, quando embarca, o personagem já está num nível insuportável de sua crise existencial. É um diretor de potencial, mas falta muito para que tenha um resultado mais agradável.
Resumindo: Made in Italy é um drama italiano esquecível, um tanto quanto chato e que apresenta dificuldade em criar vínculos com o espectador. Seria muito melhor se tivesse dado mais espaço para Kasia Smutniak (Perfeitos Desconhecidos) e criado uma personalidade mais interessante. Focando apenas em Riko, temos apenas situações dispersas e sem muito interesse. Mais um filme de crise existencial com gente chata.
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