Horácio (Pablo Echarri) é um argentino que mora no Brasil há 15 anos com sua esposa, a deputada Vera (Letícia Sabatella). Sua vida muda, porém, quando ele vira um herói no País ao "atropelar" um suposto assaltante. Com essa reviravolta, vários desejos começam a aflorar e ele decide viver a vida no limite -- inclusive pedindo permissão, à sua esposa, para ser livre para trair. É nesse momento que as coisas saem do controle: Vera fica atormentada com a ideia e Horácio não sabe como lidar com a fama repentina.
Esta é a trama de Happy Hour: Verdades e Consequências, longa-metragem dirigido pelo brasileiro Eduardo Albergaria (do documentário sobre o clube Paysandú) e com co-produção argentina. A ideia do longa, de ter um passe-livre para trair, não é nova. Na última semana, por exemplo, estreou Um Ato de Esperança, no qual uma juíza atolada de trabalho precisa enfrentar a crise do marido, que pede para ser livre em sua vida sexual. A diferença é que o filme da juíza é muito mais maduro do que este lançamento.
É difícil, afinal, entender como alguém que este filme se encaixa no mundo atual. Atualmente, vive-se uma nova revolução feminista, onde as mulheres reclamam por seus direitos e por ter uma voz igual numa sociedade patriarcal. Em Happy Hour, tudo isso é esquecido. O desejo de traição do marido, que esquece completamente dos sentimentos da esposa, é tratado como comédia. Enquanto isso, quando a diretora quer ma contrapartida, tudo é drama, tristeza, preocupação. A vontade é largar o filme.
O que há de graça nisso? Não dá pra entender. A esposa sofre, não entende como lidar com o ímpeto de traição do marido. E nada é esclarecido, nada é justificado. Há o absurdo de usar uma conversa da protagonista com a mãe e a irmã falando como o desejo de traição do homem é natural. E o que fazer? "Ah, melhor deixar o Horácio te trair com quer for melhor. Afinal, pense como isso é positivo: mostra que ele nunca te traiu como ninguém antes". É sério isso? Será que o correto é não trair e ponto final?
Tecnicamente, pouco se destaca. O protagonista Pablo Echarri (O Que Você Faria?) até se esforça, principalmente para falar português, mas nada sai dali. Aparentemente, a história afogou a atuação do ator. Letícia Sabatella (O Colar de Coralina) continua encantadora como sempre, mas não tem material. Ela acaba se perdendo dentro de uma trama, nada a ver com o resto, sobre uma candidatura à presidência com Marcos Winter como vice-presidente e Chico Díaz como um tipo de assessor de comunicação.
Além disso, a comédia do filme não flui, não funciona, não tem graça. O roteiro de ares misóginos não consegue emplacar o riso que é necessário e o longa-metragem fica truncado. Em determinado momento, quando o filme assume ares dramáticos por conta da contrapartida da esposa, as coisas se perdem ainda mais -- o humor fica esquecido, os atores somem em seus papéis e machismo fica ainda mais evidente, desconfortável.
Happy Hour é um filme para ser esquecido. Totalmente fora de tom e ultrapassado, o longa-metragem não tem graça, não tem mensagem e dá desespero pelo roteiro confuso -- o que é o trecho sobre política? O que é o tal assaltante que, no final, tem uma reviravolta bizarra? É difícil entender os motivos que fizeram Sabatella, Chico Díaz e Marcos Winter aceitarem papéis numa bomba como essa. Se não fosse pelo machismo cristalizado, seria razoável. Duas estrelas. Mas não dá pra esquecer isso tão fácil...
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