É 2002. Frank Tassone (Hugh Jackman) trabalha como superintendente de colégios, gozando de imenso prestígio junto aos professores, pais e alunos da escola em que trabalha. No entanto, durante uma entrevista para o jornalzinho da escola, o executivo dá um conselho para a aluna e jovem jornalista: sempre, em qualquer matéria, vá atrás de boas histórias. Busque, entenda.
E é a partir disso, dessa simples e preciosa dica, que se transforma a trama de Má Educação, novo filme original da HBO. Dirigido por Cory Finley (do mediano Puro-Sangue), o longa-metragem se debruça sobre essa história real, passada nos Estados Unidos, para versar sobre corrupção, impunidade, jornalismo, investigação. É uma teia de bons e fortes acontecimentos.
Isso é evidenciado, principalmente, pelo bom roteiro de Mike Makowsky (de Take Me). Ao invés de entregar tudo de bandeja, logo de cara, o roteirista vai desconstruindo a percepção que o espectador tem com a história. Tramas vão se revelando, máscaras vão caindo. Mesmo sem uma grande reviravolta, há surpresas. E isso acaba elevando a qualidade geral do longa.
Interessante, também, a subtrama jornalística. Eu, como repórter, me senti inspirado pela jornada da estudante que almeja ser jornalista. Traz uma inocência e força características.
Dando continuidade ao trabalho mais "pé no chão", visto em filmes como O Favorito e Voando Alto, Jackman mostra uma maturidade profunda. Sua atuação, sob medida, traz as nuances necessárias ao seu personagem, tão controverso. Allison Janney (Eu, Tonya), coadjuvante de luxo ali, traz uma camada de humanidade e uma fragilidade escondida por trás de mentiras.
Finley apresenta alguns probleminhas de direção já visto em Puro-Sangue -- uma perda de ritmo ali, um problema de composição de cena acolá. Mas isso compromete muito pouco da narrativa. A realidade da trama continua pulsante, as boas sacadas de Makowsky não esmoessem. É um filme conciso, direto ao ponto, e que apresenta pouquíssimas falhas.
Por isso, podemos dizer que Má Educação é o melhor filme feito pela HBO na temporada mais recente do canal e um dos melhores de 2020. Há atualidade na trama, boas atuações, uma trama completa, fechadinha. É gostoso de assistir, traz um senso interessante de justiça -- e de injustiça, é claro. Filmão, que ajuda a deter a sede por cinema que surge nessa quarentena.
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