Não há dúvidas: Lygia Fagundes Telles é a maior e mais respeitada escritora brasileira viva. E não é à toa. Seus livros são obras-primas urbanas que transitam entre mordazes críticas sociais passando por histórias de introspecção pessoal e interpretação psicológica de suas personagens. Além disso, tudo muito bem escrito com uma prosa forte e, por vezes, ousada. Assim, nada mais justo que Lygia ganhe um documentário só para ela com toda a trajetória pessoal e profissional.
E é isso que propõe o documentário Lygia, Uma Escritora Brasileira, produção da Fundação Padre Anchieta (que comanda a TV Cultura) e que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 23. Dirigido por Helio Goldsztejn, o filme é dividido em tópicos sobre a vida de Lygia -- os seus casamentos, a morte de seu filho, os processos literários e, é claro, dificuldades em romper as barreiras machistas da sociedade. Tudo com classe, elegância e, principalmente, muito bom humor.
Infelizmente, porém, o documentário de Goldsztejn não consegue ultrapassar muitas das barreiras necessárias para contar essa história. Feito para a televisão, mas reaproveitado para o cinema, o filme padece de algumas execuções e ousadias fílmicas. Grande parte do documentário, aliás, depende de talking heads -- as entrevistas e depoimentos feito para uma câmera sobre o personagem central da narrativa. São poucos os acervos e, inclusive, algumas imagens nem fazem sentido.
Assim, os quase 80 minutos de Lygia, Uma Escritora Brasileira ficam dependentes de seus depoimentos, seja de amigos, especialistas ou familiares, como Ignácio de Loyola Brandão, Anna Verônica Mautner e o ex-cunhado Jayme da Silva Telles. Alguns dos depoimentos, no entanto, perdem força ao tentar mostrar a influência de Lygia na nova geração de autores blogueiros -- Tati Bernardi está perdida e ver a youtuber Isabella Lubrano falando sobre o casamento de Lygia é dolorido.
No entanto, esses mesmos depoimentos ganham mais força em algumas temáticas e, ainda mais força, quando inserem as conversas e entrevistas de Lygia, dando uma ótica um pouco mais pessoal sobre o tema. É neste ponto que Lygia, Uma Escritora Brasileira ganha fôlego para dar um sentido à sua presença no sentido e, ainda mais, fazer jus à sua homenageada. Claro, fica a sensação que Lygia merecia muito mais. No entanto, como sempre digo, Lygia nunca é demais.
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