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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Loucas em Apuros' é divertido, mas longe de ser "tudo isso"


Interessante notar os caminhos (e descaminhos) do cinema de besteirol. Começaram com sucessos absolutos de bilheteria nos anos 2000, com American Pie, Superbad e outros, mas depois caiu em desgraça -- como, afinal, manter as mesmas piadas em tempos que não são mais possíveis? Foi aí que nos anos 2010, principalmente na segunda metade, surgiram as comédias femininas de besteirol. Com e para mulheres -- Perfeita é a Mãe!, Missão Madrinha de Casamento, Viagem das Garotas e, agora, Loucas em Apuros, estreia desta quinta-feira, 1.


Na trama, Audrey (Ashley Park) é obrigada a ir para a China para negociar com um empresário de lá. Para isso, ela conta com a companhia de Lolo (Sherry Cola) e Olho de Peixe Morto (Sabrina Wu), enquanto uma antiga amiga, Kat (Stephanie Hsu), já está no país asiático esperando para ajudar por lá. As coisas ganham outra escala, porém, quando Audrey se vê obrigada a encarar suas origens e, com isso, entender melhor quem ela é e, é claro, de onde veio. O início de tudo.


É, curiosamente, uma estranha mistura de A Despedida e American Pie. De um lado, há toda essa história sobre asiático-americanas em busca de identidade e de suas raízes, compreendendo melhor os laços entre essas duas culturas. Por outro, a direção de Adele Lim (roteirista de Podres de Ricos e Raya e o Último Dragão) não pensa duas vezes antes de trazer o besteirol, com várias piadas sexuais e que colocam essas personagens como pessoas, não como estereótipos que flanam pela história — algo que acontecia sempre no besteirol dos anos 2000.


Nessa mistura incomum de histórias, estilos e narrativas, Loucas em Apuros inegavelmente agrada e faz rir. Há toda uma comédia bastante genuína (na maioria das vezes, aquele riso de verdade, largo) enquanto também traz uma carga interessante de sensibilidade. Mérito não só de Lim como diretora, mas também como roteirista ao lado de Cherry Chevapravatdumrong (Uma Família da Pesada) e Teresa Hsiao (American Dad!). União incomum e muito funcional.

Com isso, aqueles que buscam uma comédia mais pesada e ousada, que não tem medo de colocar um ângulo de dentro de uma vagina, por exemplo, vão se surpreender encontrando uma história sensível emoldurando isso tudo. Já aqueles que buscam uma história de redenção e origem, também vão encontrar espaço para dividir a lágrima com o riso. Difícil lembrar de algum besteirol de olhar masculino que tenha uma união tão interessante, criativa e original.


No entanto, pode-se dizer que é exagerada a reação de parte da crítica especializada, que colocou Loucas em Apuros como um dos melhores filmes do ano — o longa-metragem está, agora, com 91% de aprovação no agregador Rotten Tomatoes. Sim, é bom. Mas tanto assim? Primeiramente, o filme se atrapalha nesse equilíbrio principalmente em relação ao elenco: nem todas as quatro protagonistas conseguem passear entre os gêneros de história aqui vistos.


Park (Emily em Paris) se sai muito bem nos dois estilos, conseguindo ir da comédia exagerada para o drama em um piscar de olhos — é muito boa uma cena em que ela descobre coisas sobre seu passado, carregada de emoção, assim como a ótima cena dela descobrindo como se comunicar na China com o tal empresário. Já Cola e Wu se equilibram, entre o absurdo e a quietude. Enquanto isso, Hsu (Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo) não se sai bem: sua personagem exige demais da indicada ao Oscar, que não convence no drama ou na comédia.


Fora que algumas piadas acabam perdendo um pouco a direção da história. Afinal, quando ela se propõe a misturar o drama familiar com a comédia besteirol, Loucas em Apuros assume um risco complicado: se torna exageradamente realista, com um drama pessoal compartilhado por milhares (milhões?) de pessoas. Quando passa o limite do realismo com a cena da vagina, por exemplo, o filme acaba ficando em uma corda bamba quase impossível de ser equilibrada.

 

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