Enfim, a Marvel encerra a sua tríade de séries nesse primeiro semestre de 2021. Desde janeiro acompanhamos as histórias do aclamado universo compartilhado. Porém, desta vez em formato de minisséries, quase toda a semana e sem respiro. Depois do sucesso absoluto de WandaVision e de Falcão e o Soldado Invernal, chegou a hora do vilão mais carismático do MCU ganhar o espaço que tanto merecia. Em Loki, Tom Hiddleston encarna o papel do deus da trapaça para cativar ainda mais o público em uma história definitiva para o futuro do Universo Marvel.
Mas como trazer Loki de volta depois dos acontecimentos de Vingadores: Guerra Infinita? Após a morte do personagem no começo do filme, ninguém esperava que ele retornaria alguns anos depois. Então, durante os eventos de Vingadores: Ultimato, a versão do passado de Loki consegue roubar o Tesseract, uma das joias do infinito, e se teletransportar para longe dos heróis. Mas, logo em seguida Loki é preso pela AVT (Autoridade de Variação Temporal), uma misteriosa organização fora do espaço-tempo que monitora a linha temporal do universo. Dizem eles que Loki violou as leis temporais ao fugir de seu destino e, por isso, precisa ser apagado da existência. Porém, é convidado por um agente da AVT, Mobius (Owen Wilson), a participar de uma missão para corrigir a linha do tempo e impedir uma grande ameaça que está surgindo.
Antes mesmo da série começar, muitas dúvidas seguidas de teorias foram surgindo, porque ninguém sabia ao certo como essa história iria seguir. Mas uma coisa era certeza: a Marvel iria finalmente pavimentar o caminho para o tão esperado multiverso, e nada melhor do que Loki e uma organização controladora do tempo para iniciar esse novo ciclo.
Logo no primeiro episódio, praticamente todas as dúvidas foram sanadas e inúmeras teorias derrubadas. Com bastante criatividade, os 20 minutos iniciais explicam muito bem tudo o que o espectador precisa saber sobre a AVT e a premissa da série. Por sinal, os episódios 1 e 2 são de longe os mais interessantes. Além de nos contextualizar, exploram o protagonista com bastante profundidade, assim como fizeram com Wanda e Sam nas últimas produções.
O maior acerto da Marvel nessas três séries foi trazer protagonistas tridimensionais, focando no aspecto humano. Com Loki não foi diferente. Durante a série, vemos de perto um conflito de sentimentos do deus da trapaça que nunca tinha sido tão aprofundado antes. Conhecemos a fundo seus medos, angústias e motivações, porém o mais interessante foi entender a enorme confusão dentro do personagem, que busca por um propósito, mas jamais conseguiu encontrá-lo. E claro, Tom Hiddleston brilhou no papel.
Owen Wilson como Mobius também está ótimo. Acompanhar o personagem é divertido e sua parceria com Loki funciona muito bem. Vemos a clássica dupla de buddy-cops tão abordada no cinema. Infelizmente, ela não dura tanto. Somos apresentados a uma outra personagem, Sylvie (Sophia Di Martino), uma espécie de variante de Loki de um outro universo determinada a acabar com a AVT a todo custo.
A partir do terceiro episódio, a série passa a desenvolver mais o relacionamento entre Loki e Sylvie, começando de vez o desenrolar da história. Porém, é aí onde mora o problema. Embora os personagens sejam bastante envolventes, sempre trazendo novas discussões, a trama em si não é tanto. Aliás, o enredo nunca chega a engatar de vez. Fora o relacionamento dos personagens e o mistério por trás da AVT, nada tem muito desenvolvimento.
Boa parte dos episódios são compostos por cenas longuíssimas e enroladas, com falas que não levam a lugar algum. E quando achamos que o episódio vai finalmente ficar emocionante, ele simplesmente acaba com um cliffhanger sem vergonha, servindo apenas para nos manter presos para o próximo. O pior disso tudo é que o tal cliffhanger de um episódio e a primeira cena do seguinte não se conversam, muito pelo contrário. A série vai nos enrolando tanto, que ou não conta exatamente o que está acontecendo ou deixa para ser resolvido depois, em outros filmes.
Fora isso, a narrativa não possui um desenvolvimento lógico. Ela vai seguindo com justificativas bobas e arbitrárias. Cada pergunta vem imediatamente com uma resposta inventada na hora, sem qualquer tipo de embasamento prévio. O enredo em si não é difícil de engolir. Os personagens seguram as pontas muito bem, assim como a boa cinematografia e a incrível trilha sonora. O problema é que a partir de um determinado momento, a série só se preocupa em determinar o futuro do MCU e não em trabalhar no arco narrativo daquela história.
Falando nisso, quando falamos da Marvel estamos obviamente falando de fanservice. Existe um episódio em especial cuja principal função é mostrar um compilado de referências do MCU para os fãs ficarem empolgados. Mesmo que seja divertido, chega um ponto que a história precisa andar, mas isso não vem. A série se contenta em entregar um mar de referências sem contexto para inflar a internet de conteúdo ao invés de focar na narrativa.
Assim como nas outras produções, inclusive a recente Viúva Negra, a saturada fórmula Marvel atrapalha demais a visão criativa dos desenvolvedores. Os filmes - e agora as séries - em si estão cada vez menos autossuficientes a fim de agradar apenas uma porcentagem do público.
Enfim, o enredo arrastado de Loki poderia ter sido facilmente transformado em um filme de 2 horas. O carisma dos personagens não sustenta a história que tem um bom início, mas se perde no miolo. Só vai impressionar mesmo nos últimos minutos do season finale, onde finalmente acontece tudo o que mais queríamos ver. O final é bem empolgante para as próximas produções do MCU. Desta forma, pelo visto teremos que lidar com o infeliz fato da Marvel focar mais nos caminhos desse universo do que com o desenvolvimento do filme/série em si.
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