Que pena. Só isso consegui pensar ao final do documentário holandês Lidando com a Morte, a execução mais preguiçosa em um filme na 45ª Mostra Internacional de Cinema até agora. Dirigido e roteirizado por Paul Rigter (The Nose), o longa-metragem se propõe a acompanhar a rotina de uma funerária multicultural na Holanda -- ou seja, com espaço para várias religiões.
No entanto, esse tal multiculturalismo fica só nas palavras. Rigter, ao invés de fazer um verdadeiro estudo sobre o mercado da morte e como ele está se adaptando às transformações sociais, fica apenas boiando na margem. Afinal, acompanha apenas uma funcionária da tal funerária e, ao invés de ir para as diferenças culturais, fala só sobre o funeral dos ganenses.
É raso, é preguiçoso. Dá para imaginar, lá pela metade da produção, como seria uma ideia como essa explorada pelo grande Frederick Wiseman, de City Hall, que encontrou material o suficiente para quatro horas da rotina de uma prefeitura. Aqui, a sensação é de que Rigter fica apenas com o que é fácil de explorar, de encontrar, de falar. Oras, onde estão outros povos, outras funerárias?
Por pouco, bem pouco, Lidando com a Morte não parece apenas uma propaganda. Cadê a crítica, cadê o olhar social, cadê a provocação do cineasta? Até mesmo linguagem cinematográfica lhe falta. Pelo menos, e talvez por sorte de Rigter, a personagem que é acompanhada o tempo todo pela câmera é cativante. Tem bons momentos e a polarização capital-social encravada em si.
Mas é o bastante? A sensação, como dito no começo do texto, é de que um tema maravilhoso, com possibilidades sociais gritantes, ficou na superfície. Não é à toa que, lá pela metade, Lidando com a Morte começa até mesmo a se repetir, com situações bem similares. Quando dá um salto de dois anos, por incrível que pareça, tudo continua o mesmo. Nada muda por aqui.
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