O cineasta Wagner de Assis se tornou um midas espírita em 2010, quando notou uma possibilidade de mercado e lançou Nosso Lar -- filme que alcançou a marca de US$ 25 milhões arrecadados. Depois, lançou o bonitinho, mas insosso A Menina Índigo que, apesar do apelo, passou batido nos cinemas. Agora, Assis tenta voltar com tudo com o impressionante Kardec, longa que conta a história de um dos responsáveis pela formulação da doutrina espírita em todo mundo com mais de 15 milhões de adeptos.
O longa-metragem impressiona de cara com a recriação da década de XIX, em plena Paris. Ainda que incomode o fato de pessoas falando português na França (mas, pelo menos, não forçaram o sotaque), tudo ali é deslumbrante. Os cenários são belíssimos e o figurino deixa qualquer um embasbacado. O que Assis fez ali é realmente impressionante e mostra como o cinema brasileiro consegue fazer coisas que vão além.
A trama também diverge um pouco da fórmula adotada por Assis de trazer momentos emocionantes a todo momento, tornando o filme um pouco vazio narrativamente. Há história e quem acompanhou a jornada de Kardec, com seus quatro livros publicados, vai gostar e se emocionar puramente pelos atos que se desenrolam na tela. Não há forçação da barra, nem nada do tipo. As coisas fluem e a história se faz presente ali.
Leonardo Medeiros (O Paciente), como sempre, está ótimo em cena. É um ator completo, que tem domínio do que faz. Sua interpretação de Kardec, que foi uma mente à frente de seu tempo e, por isso, foi perseguido, é precisa, no ponto. Medeiros merecia ainda mais espaço do que já tem. Agora, quem está terrível é Sandra Corveloni. Depois de já ter uma atuação apenas mediana em Dez Segundos Para Vencer, ela repete uma interpretação quase mecânica, distante de sua personagem -- a esposa de Kardec. Difícil entender o que houve. Se foi falta de direção, direcionamento. O fato é que é ruim.
O roteiro, escrito pelo onipresente L. G. Bayão (O Doutrinador, Motorrad, Minha Fama de Mau) e por Assis, tem lá seus problemas -- como diálogos excessivamente didáticos em alguns momentos ou, então, cenas que não concatenam. Mas, no geral, funciona. Principalmente por conta daquele ponto inicial que ressaltamos, sobre o fato da emoção não ser forçada. Se for para emocionar, vai emocionar. E ponto final. Além disso, o personagem de Kardec é bem construído. A sua evolução ideológica fica evidente ali.
Kardec é um filme que, sem dúvidas, vai fazer uma boa bilheteria e impactar positivamente a comunidade espírita no Brasil. A história é interessante -- até para os que não seguem a doutrina espírita, como eu -- e deve trazer algumas boas lições. Há didatismos exagerados, atuações forçadas... Mas que acabam passando ao final das contas por conta da boa mensagem e da boa história que é contada. Bom filme.
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