Imagine uma mistura de Uma Noite de Crime com O Homem que Sabia de Menos, clássica comédia com Bill Murray. O resultado seria este inventivo e interessante Kadaver, longa-metragem nórdico que estreou com exclusividade na Netflix. Tenso e com alguns bons sustos, o filme trafega numa maré de altos e baixos para, enfim, entregar um bom resultado ao público.
E tudo começa com uma premissa interessante. Uma família está assombrada pelos efeitos de um desastre nuclear. Vive à mercê da pobreza, da fome, da morte. As coisas começam a mudar quando uma trupe de teatro chega na região. Oferecem para essa família que participem de uma peça interativa e comida à vontade. É a chance de esquecer a realidade e ainda matar a fome.
A partir daí, o diretor e roteirista Jarand Herdal (Everywhen) cria uma trama tensa e intensa a partir desse jantar que, aos poucos, sai dos trilhos -- das maneiras mais estranhas, sombrias e perturbadoras que podemos esperar. O mais interessante, inicialmente, é como Herdal coloca o espectador a partir da ótica dessas pessoas desavisadas na peça, que nada sabem e entendem.
Elas, em consonância com o público sentado no sofá de casa, vai descobrindo aos poucos o que está acontecendo, criando um clima de suspense agregado ao horror que agrada. Além disso, interessante notar como Herdal inverte alguns símbolos do gênero. A máscara, geralmente ligada ao assassino, como Michael Myers ou Os Estranhos, recai na face das vítimas, do público.
Isso ajuda a criar uma dinamicidade interessante, ainda mais com toda a aura nórdica do filme, que faz qualquer um lembrar rapidamente de produções como a série Hannibal. Uma pena, porém, que Herdal se renda à alguns clichês bobos, como personagens absolutamente idiotas -- o momento em que os pais deixam a filha correr livremente é de uma estupidez americana.
Além disso, o final é daqueles típicos que dividem opiniões. Alguns vão amar e dizer que o terror é inventivo, bem sacado, uma grande surpresa. Outros vão gargalhar e dizer que é uma grande bobagem. Não importa. O fato é que Kadaver, mesmo entre erros e acertos, altos e baixos, inova em um gênero cada vez mais engessado. Causa medo, suspense, terror. E, assim, recomendo.
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