Quando Jurassic Park estreou, lá em 1993, o mundo ficou fascinado. Afinal, Spielberg conseguiu criar um blockbuster que ia numa direção totalmente diferente do que o público estava acostumado, cheio de bons efeitos visuais, história interessante e técnica perfeita. Difícil conter a empolgação quando Ellie (Laura Dern) e Alan (Sam Neill) dão uma primeira olhada no parque enquanto a clássica trilha de John Willians dá o tom e emociona.
É triste ver o rumo genérico e sem brilho que a franquia ganhou com Jurassic World e, agora, com o recém-lançado Jurassic World: Reino Perdido. Enquanto o primeiro enfrenta um roteiro inteiramente calcado na nostalgia e inovações ruins, o segundo se perde numa direção e numa história que não encontram o tom exato e criam uma trama cheia de falhas, personagens rasos, momentos bregas e um percurso sem graça até seu fim.
A história parece uma repetição do bom Mundo Perdido, ainda comandado por Spielberg. Os dinossauros do primeiro filme desta nova franquia estão sozinhos na ilha que abrigava o parque e ameaçados por um vulcão prestes a entrar em erupção. Aí que surgem, novamente, Claire (Bryce Dallas Howard) e Owen (Chris Pratt), as boas almas encarregadas de salvar os animais de uma nova extinção e levá-los, assim, para um santuário.
Na direção, o protocolar Colin Treverrow (O Livro de Henry) dá lugar ao criativo e original J. A. Bayona (O Orfanato e Sete Minutos Depois da Meia-Noite). O roteiro, para a infelicidade geral, continua nas mãos de Treverrow e do fraquíssimo Derek Connolly (Kong: A Ilha da Caveira e Monster Trucks). Difícil entender o motivo da Universal ter tido coragem de trocar a direção, mas não ter dado a ordem de fazer um roteiro do zero, sem a dupla.
Afinal, o grande problema de Reino Ameaçado é a história. Refém de vários erros que foram criados e desenvolvidos ao longo do primeiro filme desta nova franquia, a trama derrapa entre uma nostalgia mal usada (a presença de Jeff Goldblum, por exemplo), uma história de resgate que fica na metade e não é bem aproveitada, personagens rasos, alívios cômicos risíveis, antagonistas clichês e mudanças repentinas de tom que te tiram da trama.
Nem Bayona, que é um cineasta competente, consegue salvar o filme de uma catástrofe. Ele tenta imprimir certo estilo em alguns momentos, principalmente quando brinca com luzes e sensação se espaço, mas fica por aí. O espanhol chega a perder a mão numa cena, com claras inspirações no cinema de horror, onde ele comete a sandice de pôr um dinossauro para abrir uma janela. Em outra, um Velociraptor chora. É riso espontâneo e involuntário.
Isso sem falar numa piada mal ajambrada com o T-Rex, que não faz sentido algum, e a falta do senso de perigo, tão presente e tão essencial nos primeiros filmes do parque jurássico.
A sensação é de que o filme não sabe para onde ir, tirando coelhos da cartola a todo o momento para tentar acertar o rumo das coisas. Em certa altura da projeção, há uma reviravolta tão forçada que, ao invés de ser chocante, se torna pueril. Há de se ressaltar, também, que os dois personagens que serviriam como alívio cômico (Daniella Pineda e Justice Smith, péssimo) somem do nada de tão ruins que são. Isso sem falar no híbrido da vez.
Chris Pratt (Guardiões da Galáxia) percebe no perigo que está entrando com sua carreira e está bem menos carismático e interessante. Bryce Dallas Howard (Black Mirror) continua fraquíssima -- ainda que sem o salto alto, como Bayona gosta de frisar várias vezes com closes no sapato da atriz. Toby Jones (Happy End) e Geraldine Chaplin (E Se Vivêssemos Todos Juntos?) estão vexatoriamente desperdiçados. Grandes atores para papéis toscos.
Jurassic World: Reino Ameaçado até serve para passar o tempo e tem uma deixa para um terceiro filme que, apesar da qualidade decepcionante que a franquia está tomando, anima se o roteiro e direção caírem em boas mãos. Por enquanto, porém, a franquia dos dinossauros continua viva apenas na produção de 25 anos atrás, quando havia emoção ao entrar no parque dos dinossauros. Agora, infelizmente, só há decepção e, talvez, seja a hora de colocar a franquia para um longo e triste descanso.
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