Logo na primeira cena de JUNG_E, filme que chegou ao catálogo da Netflix nesta sexta-feira, 20, vemos uma mulher lutando contra robôs que parecem invencíveis. Eles atacam a tal personagem de todos os lados, de todas as formas. É uma cena de ação muito bem dirigida, com a assinatura de Sang-ho Yeon (do exepcional Invasão Zumbi). No entanto, logo fica a sensação de que o longa-metragem teve seu ápice nessa primeira cena, com o restante do filme sem vida.
A história, afinal, logo acaba se tornando uma espécie de drama político ao acompanhar a jornada de uma pesquisadora que trabalhar para clonar o cérebro de uma destemida capitã do exército -- essa personagem inicial e que, por coincidência, é a mãe da pesquisadora. Pouco de ação, pouco de vida. JUNG_E, sem muita explicação e sem coerência com tudo que tinha sido construído até então, rapidamente abraça um blá-blá-blá que não funciona e afasta o público.
Todo o contexto criado por Yeon, assim como aquela primeira cena magnífica, vão por água abaixo por conta de um roteiro, escrito pelo cineasta, que não se sustenta. Há algumas reviravoltas que surgem aqui e ali, principalmente ao fim da primeira hora de projeção, mas que causam pouca comoção. Muito disso também acontece pela fraca presença da tal pesquisadora, que simplesmente não tem a presença necessária para segurar uma trama tão sem vida.
JUNG_E, assim, começa como um filme de ação apocalíptico, mas que acaba se transformando em um drama e, depois, tenta voltar novamente para a ação. Yeon, se tivesse mais habilidades como um cineasta para construir dramas familiares e até levantar questões existenciais profundas, poderia se sair melhor -- mas não é isso que acontece. A forma como ele dirige a ação é muito superior ao que ele consegue construir em termos emocionais em 98 minutos.
No final, apesar de tentar desesperadamente reconstruir o ritmo do filme, JUNG_E já está perdido em tentativas que não conseguem criar qualquer tipo de verdade com o público. Terminamos o filme sem entender claramente o seu propósito, suas intenções e, tampouco, o desejo do cineasta em criar uma história tão apática. Nem parece ser o mesmo diretor de Invasão Zumbi, que dirigiu uma das tramas mais fantásticas de mortos-vivos dos últimos anos.
Na verdade, o filme é bom. Tem suas peculiaridades em se tratando de uma obra sul-coreana. Isso é evidente devido à cultura. O visual, as cenas possuem a marca daquele lugar. Diversas cenas lembram "cutscenes" de jogos. As cenas de ação são boas, principalmente as do final. Mas podem decepcionar por serem poucas, pois muito espaço foi usado para o desenvolvimento dos personagens e seus dramas. É necessário esse desenvolvimento para criarmos laços com eles. A atriz que interpreta a doutora está de parabéns pela atuação. O filme está longe de ser o melhor do ano, mas chamar de "sem vida e sem muito propósito" não é verdade. A ação é boa, o drama mexe com os sentimentos do expectador…