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  • Foto do escritorBárbara Zago

Crítica: 'Judy' é filme pouco inspirado, mas com história e atuação poderosas


Cinebiografias são sempre complicadas. Em duas horas, querem contar a vida inteira de uma pessoa, de cabo à rabo, do nascimento à morte. É impossível. E, dessa forma, acabamos entrando em contato com filmes inchados, forçados e que acabam sumindo na memória rapidamente. Por isso, é feliz que o diretor Rupert Goold tenha arriscado com seu novo Judy.


De formação shakespeariana e nome por trás do excepcional Rei Charles III, o cineasta inglês pegou a história da estrela Judy Garland e fez um breve recorte. Nada de nascimento, quase nada do set de O Mágico de Oz. Seu foco está nos últimos anos da vida da biografada, quando a decadência já é a palavra de ordem e o caos profissional impera na vida da cantora e atriz.


Nisso, inicialmente, Judy já sai na frente de outras biografias. Esse recorte possibilita um trabalho de direção mais apurado e um mergulho mais direto na história de Judy Garland.


Além disso, Goold tem a sorte de contar com uma Renée Zellweger inspirada, como não se via desde Miss Potter, de 2006 -- curiosamente, também uma cinebiografia. Ela encarna a personagem com força e intensidade, mesmo que não pareça fisicamente. É impressionante, também, que tenha sido a própria Zellweger a cantar as músicas clássicas da estrela.

No entanto, esses dois pontos positivos acabam sucumbindo para um outro problema: a falta de dinamicidade na direção de Goold e, principalmente, as obviedades no roteiro de Tom Edge (de The Crown). Percebe-se que o cineasta, que foi muito bem em seus filmes anteriores, parecia enquadrado, limitado -- mesmo o formato da cinebiografia sendo diferenciado. É perceptível.


Dessa forma, pouco inspirado, Goold acaba fazendo com que o formato pouco usual da cinebiografia adote todas as idiossincrasias de um longa-metragem qualquer do gênero. Não há a leveza, a originalidade e a força de uma cinebiografia como Jobs, por exemplo. Observa-se, aqui, uma proximidade maior de filmes quadrados como A Teoria de Tudo e Jogo da Imitação.


No final, fica a sensação que Goold queria fazer algo completamente fora da caixinha, mas que acabou sendo encaixotado. O frescor inicial some e acaba, afinal, sendo só mais do mesmo.


Ainda bem, porém, que a última cena é um soco no estômago e faz Judy terminar com uma nota alta. Atuação, música, direção, fotografia. Tudo funciona em uníssono, fazendo com que o longa-metragem ganhe pontos -- e colocando Renée ainda mais perto do Oscar. Assim, Judy é um filme que tenta ser criativo, mas termina no lugar de sempre. Emociona. Mas podia ir além.

 
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