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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Joias Brutas' é cinema frenético com Adam Sandler imponente


Os irmãos Benny e Josh Safdie têm apenas outros três longas no currículo -- os fracos Go Get Some Rosemary e Amor, Drogas e Nova York, além do ótimo Bom Comportamento. E, mesmo assim, o novo Joias Brutas chegou ao catálogo da Netflix cheio de pompa e circunstância. Afinal, o filme foi extremamente bem avaliado pra época de premiações e, principalmente, tem um Adam Sandler diferente do que ele geralmente faz por aí. E, de fato, Joias Brutas é um filmaço.


O longa-metragem conta a história de Howard Ratner (Sandler), um judeu que comanda um pequeno negócio para comprar e vender joias. No entanto, seu grande negócio é nas sombras, com transações escusas. E é exatamente no meio de uma dessas negociações que começa Joias Brutas. O protagonista está no centro de uma série de cobranças de dívidas quando recebe um pacote que esperava há tempos: uma opala rara encontrada por pobres judeus africanos.


Assim, Ratner entra numa espiral de caos e confusão. Afinal, por mais que tenha a faca e o queijo na mão, sua ganância e o seu desejo de ganhar mais e mais o cegam a todo o momento.


Os irmãos Safdie, a partir dessa trama escrita por eles e por Ronald Bronstein, tecem uma narrativa frenética, caleidoscópica e cheia de meandros para fazer com que as sensações vividas por Ratner cheguem ao espectador. Há falatório desenfreado em cenas, acontecimentos que se amontoam, música eletrônica em toda trilha sonora de Daniel Lopatin, e por aí vai. Assim, os Safdie, novamente, fazem um filme sensorial com camadas e emoções sempre à flor da pele.

Joias Brutas, de alguma maneira, é mais do que um filme para ser assistido. É um filme para ser sentido, vivido na pele, com todas suas dificuldades, emaranhados e bizarras confusões.


E muito da responsabilidade desse sentimento que se desprende da trama e ultrapassa a barreira da tela tem nome e sobrenome: Adam Sandler. O ator, acostumado a fazer comédias bobas como Zerando a Vida e Mistério no Mediterrâneo, revisita seu potencial interpretativo já visto em filmes como Homens, Mulheres e Filhos e Embriagado de Amor. Muito maquiado, o ator se transforma na tela num tipo cheio de manias, estranho, e que não sabe lidar com problemas.


Afinal, sempre que há algum problema, Ratner pula de cabeça e, como uma opala, o transforma num caleidoscópio. Parece que as confusões envolvendo o protagonista se multiplicam, transcendem meras resoluções que, por vezes, passam pela mão do personagem vivido por Sandler. Parece algo simples de interpretar, mas não é. Afinal, o ator precisa dar veracidade ao caminho que seu personagem trilha -- neste caso, tortuoso, repleto de falhas, questionamentos.

Dessa união, assim, nasce um filme potente, frenético e caótico (num bom sentido). É o trabalho máximo desses dois diretores que sabem criar personagem naturais e realísticos em tramas urbanas decadentes e em espaços abaixo da lei. Sem dúvidas, um dos grandes filmes de 2020 e com uma atuação masculina que deve ser difícil de ser desbancada ao longo do longo período que vem pela frente. Agora, a ansiedade em ver o próximo filme dos Safdie já começa a crescer.


* Filme visto nos EUA. No Brasil, infelizmente, 'Joias Brutas' estreia só em fevereiro de 2020.

 
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