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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'John Wick 4: Baba Yaga' é o mais exagerado e divertido da franquia


É inacreditável pensar que a franquia de John Wick começou com um homem raivoso pela morte de seu cachorro. Hoje, três filmes depois e com John Wick 4: Baba Yaga chegando aos cinemas nesta quinta-feira, 23, a coisa já ficou mais complicado do que uma simples vingança: tem sociedades assassinas, famílias russas, traições e por aí vai. Diversão pura, traduzindo.


Exemplo disso é a história do novo filme. O longa mostra John (Keanu Reeves) novamente como um pária dentro do universo da Alta Cúpula, essa irmandade que comanda as diferentes famílias de assassinos espalhadas pelo mundo. O protagonista sequer pode contar com o apoio certeiro de Winston (Ian McShane), que o traiu no último filme, e precisará se virar como pode para matar pessoas, sobreviver e, quem sabe, ganhar o direito de ter uma vida comum.


É uma história que anseia desesperadamente em ser maior, em todos os sentidos, do que os filmes que a antecedem. A primeira hipérbole que surge é a mais fácil de perceber: tempo. Há quase uma progressão geométrica na duração das sequências, começando com De Volta ao Jogo com 101 minutos, seguindo com Um Novo Dia para Matar com 122 minutos, pulando para 130 minutos com Parabellum e alcançando 169 minutos agora com John Wick 4: Baba Yaga.


Sendo franco, é uma duração genuinamente absurda. Surreal. O diretor o diretor Chad Stahelski (por trás de todos os filmes da franquia) infla a história, com muitas subtramas desnecessárias, deixando-o levemente cansativo. Toda a subtrama envolvendo Scott Adkins, irreconhecível como o gângster Killa, poderia ser retirada do filme e não haveria decréscimo algum de tudo o que foi contado na história. O começo do filme, em cenas que envolvem o sempre excelente Hiroyuki Sanada como Koji, também é um tanto quanto inchado. Sem isso, poderia ter uma hora a menos.


Apesar disso, John Wick 4: Baba Yaga tem mais acertos do que erros. Stahelski, com roteiro de Shay Hatten e Michael Finch, mostra claramente que adora todo o universo construído na franquia: ele explora ao máximo a cultura da Alta Cúpula e mostra como pode ser divertido falar de sociedades de assassinos com suas regras próprias assim como é divertido falar de heróis.

Com isso, o filme faz algo importante: avança. Assim como aconteceu em Um Novo Dia para Matar e Parabellum, há uma preocupação que a história não apenas ande em círculos com cenas de ação inacreditáveis, como também avance na construção desse universo tão particular. Isso é essencial para que as pessoas saiam satisfeitas da exibição dos filmes de John Wick: percebe-se como a história está avançando, mesmo que lentamente. Há algo a ser contado aqui.


Também é preciso acrescentar como a franquia sabe criar personagens icônicos como poucos. Os vilões daqui (interpretados por Donnie Yen, Bill Skarsgård e Adkins) são tão particulares, excêntricos e estranhos que lembram os vilões daqueles filmes mais leves e divertidos de James Bond: sabemos que são figuras perigosas antes mesmo dos primeiros socos, chutes e ameaças. Isso tudo, no final, só contribui ainda mais para a criação desse bom universo.


Mas, enfim, vamos ao que interessa e o que faz com que as pessoas compareçam no cinema: as cenas de ação. John Wick 4: Baba Yaga também é um tanto quanto inflado nesse sentido (confesso que fiquei cansado com a cena da escadaria, por exemplo), mas, em compensação, conta com algumas das cenas mais espetaculares não só da franquia, mas do cinema de ação contemporâneo. Em três momentos, confesso, tive vontade de me levantar e aplaudir.


Difícil não segurar a empolgação, por exemplo (e sem spoilers!), com o enfrentamento entre Koji e o personagem cego Caine, de Donnie Yen). A loucura insana do Arco do Triunfo mostra toda a capacidade de Stahelski e de Reeves em tomar conta de um ambiente. É surreal de tão divertida (ainda que, novamente, um pouco longa demais). E, por fim, uma sequência dentro de uma casa, com a câmera posicionada em lugar improvável, é uma das melhores do ano e de tirar o fôlego.


Uma pena que a franquia esteja, aparentemente, chegando ao fim nos cinemas -- mas com uma série derivada já em produção. Tirando os filmes de Tom Cruise, hoje em dia poucas produções do gênero são tão boas, tão pensadas, tão divertidas. Até mesmo o ar artificial e ensaiado de algumas cenas não perde o público. John Wick 4: Baba Yaga é bom. É muito divertido. É honesto. E isso é algo que, convenhamos, o cinema está com dificuldade de entregar nos últimos anos.

 

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