Confesso que até uns 50 minutos de projeção, mais ou menos, estava achando que Irmãos à Italiana seria um dos filmes do ano. Afinal, o diretor Claudio Noce encontrou a sensibilidade necessária para contar sua própria história: a de um garotinho que viu seu pai ser vítima de um atentado na porta de casa. Quais traumas foram criados na cabeça desse menino tão novo?
Muito bem interpretada por Mattia Garaci, a criança mostra que precisou crescer cedo, e rápido, após a tal tentativa de assassinar o pai -- que nunca tem a sua profissão realmente esclarecida. A cada batida na porta, o menino congelava. A cada saída do pai, apreensão. Será que ele conseguiria voltar? Afinal, a Itália vivia os "anos de chumbo". O pai estava diretamente envolvido.
Noce, mostrando sua visão como criança, nunca fala diretamente sobre fatos políticos ou sociais. Como qualquer criança, o pequeno Valerio vai pegando as dicas, os sinais. Nós, como meros espectadores, vemos tudo por meio de seu olhar. Não é à toa na insistência do diretor em sempre colocar a câmera no rosto do menino ou, então, em sua nuca, como se víssemos por ele.
Além disso, após o trauma, surge um garoto na vida de Valerio. É Christian, um menino aparentemente de rua, sempre sujo e com uma bolsa a tiracolo, que aparece apenas para o protagonista-criança. É um fantasma? É esquizofrenia do personagem? O que acontece? São toques narrativos que pipocam aqui e ali e que deixam o filme mais desafiador, saboroso.
E a principal alma dessa história, ainda que Garaci se saia bem, é Pierfrancesco Favino (Suburra). Ele está no ápice de sua capacidade interpretativa, praticamente vivendo os anos 1970 -- ele tem toda a malícia, dor e fantasia dos personagens italianos dessa década. A relação dele com o filho transcende a tela, ganha força e arrebata o espectador. Grande ator.
Mas, uma pena, o roteiro se perde completamente na segunda metade. Os personagens decidem fazer uma viagem (que é mais uma fuga, mas tudo bem). Ali, acontecem duas coisas: mudanças drásticas no personagem de Christian e uma modulação ainda maior na relação entre Valerio e o pai. Sobre este último ponto: sem problemas. Continua sendo a alma do filme. Funciona bem.
Só que as mudanças envolvendo Christian matam o filme. É confuso, é mal resolvido. Além disso, perde muito da força imaginativa de Valerio -- ele ainda é um personagem complexo e com camadas, mas o encanto começa a se esvair. Irmãos à Italiana fica estranho. E surge a questão: o que Claudio Noce está realmente querendo contar aqui? Pra que serve Christian?
O filme, ainda que tenha a força de Pierfrancesco, termina como uma viagem e dois amigos se divertindo -- há até alguns paralelos óbvios com Luca. Uma pena. Mas isso, de alguma forma, não apaga o que Noce conseguiu construir no começo da narrativa. Poderia ter terminado melhor, como O Ano que Meus Pais Saíram de Férias? Claro. Mas faltou muita força.
Parabéns pela sua crítica.