Fui cheio de vontade pra sessão de Irmandade da Sauna a Vapor, parte da seleção da Mostra. Documentário da Estônia, o filme tem uma proposta interessantíssima: mostra as conversas de mulheres nesse pequeno país do leste europeu dentro das saunas, uma prática comum em algumas cidades. É ali que elas revelam suas intimidades, segredos, frustrações, medos e, claro, memórias. É como se fosse um espaço terapêutico, onde se sentem seguras para falar.
E é justamente isso que o filme entrega: conversas sinceras. Ao longo de seus quase 90 minutos, o documentário mostra essas mulheres em conversas francas, sem medo, expondo tudo aquilo que pensam e passaram. Opiniões sobre como o corpo feminino é tratado, sobre o primeiro contato com o sexo oposto, a forma que lidaram com a menarca e por aí vai.
São temas importantíssimas que causam maior ou menor impacto. No final, por exemplo, uma das retratadas traz uma experiência de estupro (e, aqui, já vale o aviso para públicos mais sensíveis com esse tópico) e que é devastadora. Percebi uma moça ao meu lado se revirando na poltrona do cinema. E faz sentido: não só foi um retrato absolutamente gráfico dessa experiência devastadora, como também é muito verdadeiro, real. É a mulher e sua experiência.
Além disso, a fotografia é magnífica: Ants Tammik brinca com sombras e luzes evitando revelar o rosto daquelas mulheres que, por outro lado, estão completamente desnudadas de corpo e alma naquele espaço febril. Várias imagens, mais do que impactantes, traduzem sentimentos e emoções e, ainda, são belíssimas. Sabe como criar quadros contribuindo para o andamento.
O problema de Irmandade da Sauna a Vapor surge na sua estrutura. Ainda que o filme seja importantíssimo, com temas essenciais atravessando as conversas, ele peca em seu formato de roteiro -- assinado pela também diretora Anna Hints. Ele acaba sendo muito esquemático: as mulheres preparam a sauna, entram no espaço, falam sobre determinado tópico e depois saem para que possam se refrescar. E isso se repete. E se repete. E se repete. Até o último minuto.
Hints aposta totalmente na força dos relatos para manter o interesse da narrativa, esquecendo um pouco da estrutura. Isso compromete o ritmo do filme, que acaba perdendo demais o impulso principalmente depois dos primeiros 30 minutos. Reavivei o interesse só no finalzinho.
Ainda assim, Irmandade da Sauna a Vapor é um filme importante que se revela como um bom espaço para discutir assuntos que, geralmente, são relegados ao esquecimento ou, pior, à vergonha. Mostra que mulheres podem se sustentar, conversar e buscar um novo caminho.
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