O cineasta americano Antoine Fuqua começou sua carreira com videoclipes. Foi lá que desenvolveu um estilo próprio, muitas vezes comparado com a linguagem das ruas, para contar suas histórias. Depois, quando deixou os vídeos em segundo plano, mostrou bem sua capacidade para fazer bons filmes com Dia de Treinamento, Lágrimas do Sol e o thriller A Isca.
Desde então, ainda que não tenha mais apresentado um trabalho no nível dessas suas primeiras aventuras como diretor na tela grande, se manteve. Nos anos 2000, trouxe filmes de ação além do óbvio (Atirador e Atraídos Pelo Crime). Mas, nos 2010, mudou. Apostou em franquias e filmes com alto orçamento, como O Protetor, Sete Homens e um Destino e Invasão a Casa Branca.
Agora, nos anos 2020, isso se consolida de vez com o tenebroso Infinite. Inspirado no livro The Reincarnationist Papers, o longa-metragem conta a história de uma sociedade que conta com pessoas de alma imortal. O corpo se vai, mas fica a essência. O espírito. E uma dessas pessoas, uma das mais poderosas, é um homem (Mark Wahlberg) com esquizofrenia que vive nos EUA.
A partir daí, acompanhamos a jornada desse protagonista tentando entender essa particularidade que o cerca enquanto, ao mesmo tempo, precisa lutar com um homem com as mesmas condições que quer acabar com a humanidade. Afinal, na visão desse vilão vivido por Chiwetel Ejiofor, extinguir a sociedade é a única forma de interromper o ciclo de renascimento.
E assim, com essa história com ares de The Old Guard, acompanhamos os desdobramentos e as reflexões que Fuqua coloca na tela. Como esperado, há muita ação -- cenas de perseguição com carros bem mequetrefes, vale dizer -- e uma trama de ficção científica que tenta trazer pinceladas sobre o destino da humanidade. No entanto, pouco disso realmente funciona na tela.
A ação acaba sendo genérica e sem vida, apesar do uso de espadas. Há momentos absolutamente descabidos, como o salto do personagem de Wahlberg, usando uma moto, na asa de um avião. É um recurso muito usado em filmes como Velozes & Furiosos, por exemplo, mas que não faz sentido numa proposta como em Infinite, que busca discussões mais profundas.
Infinite fica ali perdido entre a ação descerebrada, uma trama mais densa e a ficção científica. Faltou mais Antoine Fuqua de antes, que saberia dar ritmo e profundidade. Virou apenas uma espécie de filme de super-herói, com personagens com poderes e um artefato a ser destruído. Fuqua precisa reencontrar sua voz. E o cinema deixar de investir em tanta bobagem.
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