Uma das primeiras cenas de Indiana Jones e a Relíquia do Destino, depois de uma sequência em um trem nazista, traz Indiana Jones de um jeito que nunca imaginamos ver antes. O personagem, interpretado pela quinta vez por Harrison Ford, está cansado, envelhecido e, em um mundo de olho nas conquistas espaciais, tem pouca importância quando fala sobre as lembranças de suas aventuras. Indy não é mais o mesmo e esse é o ótimo ponto de partida do longa-metragem, estreia desta quinta-feira, 29, e que encerra a jornada de Ford na franquia.
Dirigido por James Mangold (Logan), que "substitui" Spielberg, o filme logo insere uma boa dose de aventura, como esperamos em uma história de Indiana Jones, quando a afilhada (Phoebe Waller-Bridge, de Fleabag) surge em busca de um artefato raríssimo. É aí que o passado volta, representado principalmente na figura do determinado nazista Dr. Voller (Mads Mikkelsen).
O longa se equilibra em uma corda complicada entre passado, presente e futuro. Afinal, o roteiro de Mangold, Jez Butterworth (No Limite do Amanhã), John-Henry Butterworth (Ford vs Ferrari) e David Koepp (Jurassic Park) precisa trazer a nostalgia do passado, com tudo o que aprendemos a amar na franquia; um bom filme para o presente; e, enfim, os passos para o futuro da franquia – afinal, é em cima de direitos autorais que a Walt Disney Studios trabalha nos últimos tempos.
E é nessa corda-bamba que as coisas ficam mais complicadas e instáveis. O filme lembra aquela foto de Jânio Quadros, com os pés trocados, indo para frente e para trás: ele mira o que vem por aí, principalmente com Waller-Bridge e a direção inédita de Mangold, mas o passado é mais forte. É como um imã atraindo a história e os personagens o tempo todo. E Mangold, apesar dos bons resultados que já apresentou em Logan e Ford vs Ferrari, não é Spielberg. A aventura, que é o ponto alto na saga toda de Indiana Jones, parece apenas uma lembrança.
Afinal, o cineasta tenta o tempo todo emular aquilo que já fez sucesso em algum momento, como as aventuras aleatórias no Marrocos – e o surgimento de um personagem-mirim que em nada acrescenta em toda a história – e as chicotadas que hoje já não fazem sentido com armas de fogo. Olhando para as cenas de ação e aventura de filmes mais recentes que fizeram sucesso nesses gêneros, como Top Gun: Maverick e Avatar: O Caminho da Água, tudo aqui não traz originalidade e frescor, apenas repetições de algo que já vimos por aí. Há cansaço na história.
Pelo menos o elenco está entrosado e se diverte. Harrison Ford, que já tinha emocionado o público dos cinemas voltando ao papel de Han Solo em Star Wars: O Despertar da Força, mostra que continua tendo vigor aos 80 anos. Enquanto isso, Phoebe Waller-Bridge não tem nenhum grande momento da história, ficando sempre à sombra da própria jornada de Indy, sem nunca brilhar sozinha – ainda tem o tal menino, que ofusca ainda mais Phoebe em suas histórias.
Fica a vontade de ver mais aquele Indiana Jones que aparece apenas por 10 ou 15 minutos, explorando a vida anônima de professor da universidade ou, então, andando de cavalo no metrô. São cenas bem mais empolgantes do que todo o restante que o filme nos apresenta. Indiana Jones e a Relíquia do Destino não é um filme ruim ou tampouco desastroso, mas falta coração. E esse é o maior pecado em uma franquia como essa, tão amada ao longo das décadas.
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