Maria (India Eisley) é uma garota com problemas na escola. Apesar de bonita e inteligente, ela não consegue entrar na "turminha" popular e acaba ficando sem amigos verdadeiros. A coisa complica ainda mais na vida da menina, porém, quando ela descobre que tinha uma irmã gêmea, que nasceu com uma deficiência. A partir daí, as coisas saem de controle na vida da menina e ela passará por cima da mãe (Mira Sorvino), amedrontada e sem voz ativa; do pai (Jason Isaacs), um cirurgião plástico que não pensa no bem da filha; e da amiga Lily (Penelope Mitchell), falsa e interesseira. Esta é a premissa de Não Olhe, filme que chega nas salas de cinemas nesta quinta-feira, 28.
O grande ponto do filme é que, a partir de determinado momento de trauma, a protagonista cria um "outro eu". É uma versão mais nefasta e sombria da garota, que surge do reflexo do espelho. Isso está longe de ser algo novo. O recente Cam, da Netflix, usou uma premissa parecidíssima envolvendo uma menina que se expõe sexualmente numa web cam. A questão do duplo também já foi tratada de "maneira cabeça" pelo diretor Denis Villeneuve em O Homem Duplicado. E ainda o razoável O Duplo.
Assim, é preciso que o resto da história, escrita e dirigida por Assaf Bernstein (The Debt), traga outros pontos de originalidade. Mas, infelizmente, quase nada vem. A atmosfera lembra muito Hereditário, do ano passado, mas bem mais pobre -- ainda que o diretor de fotografia seja o bom Pedro Luque, de O Homem nas Trevas e O Silêncio no Céu. A virada da trama, enquanto isso, parece uma mistura de Carrie, a Estranha e alguma coisa de Poltergeist 3. Tudo parece muito genérico, muito pouco criativo e real.
O que Bernstein tem a seu favor é a atriz principal. India Eisley (Anjos da Noite: O Despertar), além de chamar a atenção na tela, consegue entregar o necessário num papel dificílimo. Ela transita entre as duas personalidades e convence. Pena que o roteiro não dê tanto espaço para ela criar mais, se mostrar mais. Sem dúvidas, será interessante vê-la em filmes ainda mais desafiadores e com mais potencial. Isaacs (o Lucius Malfoy de Harry Potter) e Sorvino (Poderosa Afrodite) estão apenas razoáveis.
O que vai definir se você gosta ou não do filme é o terço final. Lá, o diretor deixa o drama de lado, que surge em pinceladas durante as cenas de bullying e de exclusão, para apostar no horror de uma vez por todos. Há violência, há cenas perturbadoras -- ainda que não deem medo. Sem dúvidas, nesse momento, alguns espectadores vão gostar do que é exibido. Outros, enquanto isso, já devem estar imersos na história e estranhar o desenrolar. Assim, Não Olhe é o típico filme oito ou oitenta. Difícil ser diferente disso.
No entanto, mesmo que a pessoa goste, não dá para esconder falhas, como a falta de originalidade, momentos exagerados e a falta de inspiração de Issacs e Sorvino. Poderia ser um filme bem melhor sem esses problemas. Mas, com eles ali, é um longa-metragem que dá pra se divertir, principalmente em grupos de amigos que querem dar algum boas risadas e levar alguns sustos -- apesar do final metafórico e que foge do cinemão popular. Só não espere uma grande produção. Isso, sem dúvidas, passa longe.
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