Os Incríveis é um filme que marcou gerações. Não só pela sua ótima história, mas também por seus personagens carismáticos e reais, a direção precisa de Brad Bird e a qualidade técnica em todas suas vertentes, desde os efeitos especiais até a trilha sonora. Se não fosse um arco um pouco cansativo de Sr. Incrível na metade da trama e alguns escapismos primários em seu roteiro, Os Incríveis seria um longa-metragem irretocável.
Felizmente, porém, Brad Bird decidiu tirar a ideia de Os Incríveis 2 do papel. Não é tão original e marcante quanto o primeiro, de 2004, mas acerta em alguns aspectos a mais: é muito mais dinâmico; traz mais diversidade e igualdade em seus papéis, balanceando com personagens queridos do público; e é muito, muito mais divertido de assistir e passar o tempo.
No centro da história, a família Incrível. Desta vez, porém, quem é chamada pra salvar o dia é Helena (Helen Hunt). Recrutada por um grupo familiar que tenta trazer os heróis de volta e tirá-los da ilegalidade, ela ficará responsável por realizar atitudes heroicas corriqueiras e mostrar que pode fazer bem para a humanidade. Enquanto isso, Beto Pêra (Craig T. Nelson) ficará em casa cuidando dos filhos Zezé, Violeta (Sarah Vowell) e Flecha (Spencer Fox).
Os personagens não mudaram nada -- afinal, o filme se passa imediatamente após a conclusão do longa de 2004. Os conflitos continuam os mesmos, a dinâmica familiar é a mesma. Só que com um ingrediente a mais: Zezé, que ficou com a babá no último filme, praticamente ganha o protagonismo nessa sequência. Com tiradas bem sacadas do roteiro do próprio Bird, ele diverte com a descoberta de seus poderes por parte do Sr. Incrível. É muito bom.
A Mulher Elástico também apresenta um desenvolvimento interessante, sendo mais posta à prova do que anteriormente -- além de trazer um bom e atual debate sobre o protagonismo feminino. Mas é a rotina familiar do Sr. Incrível que chama a atenção, tendo os momentos mais inspirados. As participações de Gelado (Samuel L. Jackson) e Edna Moda (Bird) também ajudam na consolidação desse ambiente familiar como ponto alto.
Quanto à história, que tinha uma lentidão exagerada no de 2004, fica mais dinâmica. Nada de Beto Pêra naquela ilha, nada de treinamento, nada de conflitos interiores para tirar a agilidade da história. Aqui, tudo acontece de maneira mais inteligente, sem deixar que o público se canse. Ainda assim, sem tirar todo o peso emocional que a família carrega, como a inclusão de crianças na luta contra o crime e a situação fora da lei que os criminaliza.
O vilão, porém, não consegue ser tão bom quanto Síndrome. E é isso que tira pontos do filme e não o faz alcançar as cinco "esquinas". Previsível desde o começo, só as crianças devem se surpreender com a identidade do antagonista. Falta o tempero que o vilão do primeiro filme trouxe e ficou tão marcado. Além disso, a solução para um problema que é criado pelo tal vilão é resolvido de maneira tão óbvia que te tira do filme. Difícil ficar impassível.
Mas de resto, Os Incríveis 2 é ótimo. Ainda que não seja tão original e marcante quanto o primeiro, o novo longa-metragem de Brad Bird é feliz ao apostar numa dinamicidade que não foi vista anteriormente, além de levar a diversidade à tela e arriscar mais no humor da família Pêra -- além, claro, de Gelado e Edna Moda. Ah, e não tema em ver a versão dublada. Ainda que tenha alguns exageros nas adaptações, a versão traz boas surpresas.
Agora, é torcer para que Os Incríveis 3 não demore mais 14 anos. É muito tempo sem a família Pêra.
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