Quando pensamos nos povos nativos americanos, é triste perceber como pouco sabemos sobre suas origens, verdades, realidades. Afinal, grande parte do saber comunitário sobre esses nativos chega a partir de conteúdos produzidos pelos próprios colonizadores. Ou, então, por aqueles que mataram os seus próprios nativos. Só ver o faroeste, por exemplo. É estereotipação.
Por isso é tão importante ressaltar o excelente trabalho de Inconvenient Indian, longa-metragem de Michelle Latimer e inspirado na obra homônima de Thomas King. Certeiro e provocativo, esta produção selecionada para o Festival de Toronto acerta em cheio ao colocar o espectador para pensar: quem são nativos norte-americanos? Onde foram parar? Qual a verdade desses povos?
E assim, levando o espectador a partir de uma narrativa sedutora e saborosa do próprio King, nos colocamos na roda de reflexão e nos tornamos parte de Inconvenient Indian. Buscamos, assim, entender como participamos desse processo de genocídio e invisibilidade continuado. Algumas vezes, inclusive, extrapolando as barreiras geográficas e pensando aqui no Brasil.
Afinal, essa situação triste e desanimadora que é revelada com os povos indígenas nos EUA também pode ser compreendida pela nossa própria realidade. São povos distintos, mas que acabaram seguindo o mesmo caminho sanguinário, triste e que apaga essas origens -- as nossas origens, oras! -- nos deixando apenas com um passado violento e colonizador.
O mais interessante, aqui, fica quando Thomas King faz uma reflexão sobre a retratação da figura do indígena no imaginário popular. Até mesmo Nanook, o primeiro documentário em longa-metragem da história do cinema, passa por revisionismo. E vemos como essa visão preconceituosa e arcaica acaba afetando gravemente nosso entendimento sobre esses povos.
Inconvenient Indian é um longa-metragem potente, bem filmado, bem roteirizado. Ainda que tenha algumas gorduras e se perca um pouco em algumas passagens, mantém o tom e sabe para onde apontar o dedo. Quem sabe, num momento tão desanimador em que vivemos, possamos compreender melhor quem somos e para onde vamos. Este filme é necessário.
Afinal, assim como Revelação nos fez olhar com outros olhos para a representação da comunidade transsexual, Inconvenient Indian nos faz olhar para o indígena, que não é aquela figura estereotipada, banal e arcaica que ficou no nosso imaginário. Precisamos ressignificar, buscar novas compreensões e, assim, talvez, avançar como uma única e plena sociedade.
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