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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Império da Luz' tem sua beleza, mas peca em não aprofundar temas sérios


Enquanto muita gente buscou assistir ao filme Império da Luz antes da cerimônia do Oscar em 2023, buscando meios alternativos, eu resolvi esperar. Até que, na última semana, assisti ao longa-metragem em uma exibição para a imprensa antes da estreia no Star+ na próxima sexta-feira, 28 de abril. E confesso que não vi tanta coisa negativa como falaram aos montes: há uma certeza beleza inesperada no filme de Sam Mendes (1917), ainda que lhe falte profundidade.


A história se concentra na personagem Hilary (Olivia Colman). Ela sofre de algum transtorno mental, ainda que não fique tão claro no início -- afinal, ela consegue controlar muito da ansiedade e sofrimento com o trabalho que tem um cinema decadente, sobras da Era de Ouro. Lá, além de ter algumas amizades superficiais, ela mantém um caso com o gerente (Colin Firth) e cria um envolvimento sincero com Stephen (Micheal Ward), jovem negro recém-empregado.


A partir disso, Mendes vai se aprofundando nas dores desses dois personagens, cada um à sua maneira. Hilary vive as dores e as maravilhas de amar alguém, mesmo não tendo certeza se é realmente correspondida ou não. Ela consegue segurar suas questões mentais enquanto vive no presente. Stephen, enquanto isso, é um jovem negro tentando viver (e sobreviver) em uma Inglaterra racista e que, em cenas ao estilo Laranja Mecânica, bate violentamente no rapaz.

Essa dinâmica, estabelecida rapidamente por Mendes, é absolutamente complexa. Oras, o roteiro -- escrito pelo próprio cineasta -- trata de dois assuntos que não podem ser tratados de maneira leviana. Racismo e doenças mentais são assuntos que exigem aprofundamento. Quando Mendes traz os dois temas à baila, complica demasiadamente sua situação: por mais que tente, a história dos personagens de Império da Luz fica inevitavelmente inferior, pequena.


As atuações de Colman (A Favorita) e Ward (Gangues de Londres) seguram toda a emoção na marra. Colman, em uma cena que não está bem mentalmente, tem uma das atuações mais fortes do ano -- algumas pessoas dizem que é afetada demais; mas quem diz isso não sabe, com certeza, o que é alguém com surto. Você gosta daqueles personagens, torce por eles, ainda que fique um buraco no desenvolvimento e no aprofundamento dessas mazelas em suas vidas.


Mendes, enfim, quis ir com muita sede ao pote e mostrou que, realmente, não é um grande roteirista, ainda que domine brilhantemente a técnica de filmagem. Ele, ao lado da fotografia deslumbrante do sempre brilhante Roger Deakins (também de 1917), deixam o filme com um apuro técnico que salta aos olhos até de leigos. Dá para ver como há cuidado nas reconstituições de época e preocupação em criar um clima, um ambiente para o espectador.


Mas é isso: no final de Império da Luz, fica a sensação de que Mendes descobriu as discussões sobre saúde mental e racismo anteontem e, hoje, está animadíssimo querendo mostrar aos outros como são assuntos importantes. Com isso, não apenas a história parece saída da década de 1980, como o filme também parece uma produção pequena vinda do século passado. São assuntos ultrapassados. Enfim: vale a pena, pelo menos, apreciar Colman na tela.

 

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