Zé Celso é uma lenda viva, um mestre dos palcos, que conhece o mundo da interpretação como poucos. É uma enciclopédia viva do teatro. No entanto, ainda assim, ele nunca tinha estrelado um longa-metragem. Mas essa ausência acaba agora com Horácio, drama nacional que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 11, e que também marca a estreia do diretor Mathias Mangin, vindo do mundo dos curtas.
A trama acompanha um grupo diverso de pessoas, a maioria envolvida com crimes, que vai se entrelaçando, se encontrando, se perdendo. Como elo central dessas pessoas está Horácio (Zé Celso), um excêntrico contrabandista gay, já na casa dos 80 anos, que vive momentos complicados. Afinal, um juiz decretou sua prisão, mas ele continua escondido em seu apartamento no Bixiga. Só não foge do País por estar esperando uma decisão do durão Milton (Marcelo Drummond), o seu capanga preferido e a sua verdadeira paixão.
Como ressaltado, a trama do filme se vale daquele recurso de colocar diferentes personagens, geralmente distantes entre eles, unidos por uma única causa, sentimento, acontecimento. Aqui, é os encontros e desencontros do amor. Nenhum dos personagens sabe se é amado, mas tem certeza de quem ama. É um mar de desilusão, que vai sendo composto por prostitutas, mulheres sofridas, jogadores pouco talentosos, e por aí vai.
Para um filme de estreia, Mangin se sai bem. A direção, apesar de ser pobre em alguns sentidos, alcança especial cuidado quando Zé Celso está em cena. Nesses momentos, parece que Mathias e o mestre dos palcos entram numa sintonia fina, resplandecente. É difícil não se admirar com o que Zé faz nas telonas, transportando sua irreverência e seu domínio dos palcos também para a tela de cinema. Mathias e ele fazem boa dupla.
No entanto, apesar do brilho da atuação de Zé Celso e esses rompantes criativos do cineasta, Horácio conta com um problema de organização de roteiro. Assim como o recente e mediano A Vida em Si, que entrelaça histórias, o novo longa-metragem nacional tenta encadear os personagens, mas o resultado fica aquém do esperado. A química não é tão boa entre todo o elenco e muitas coisas ficam confusas. Quando começam a fazer sentido, o filme, que tem apenas 88 minutos, acaba subitamente.
Mas, ainda assim, há características que fazem o filme valer a pena. Além de Zé Celso, como já comentado, Horácio tem um boa trilha sonora, uma boa atuação e um figurino interessante -- principalmente o do personagem de Zé, que entra num mundo de roupas excêntricas. Pena que fotografia e alguns outros atributos técnicos não se sobressaiam. São apenas feitos corretamente. Se fosse diferente, o problema narrativo seria menor.
Horácio pode, ainda assim, ser considerado um bom filme de estreia de Zé Celso. Ele, afinal, rouba a cena a todo momento, principalmente quando está contracenando com a chatíssima Maria Luísa Mendonça. É, enfim, um longa-metragem banal e que seria esquecível se não fosse pelo ator protagonista. A possibilidade dele estrelar um filme, como nunca tinha sido feito em sua carreira, é histórico. Merece isso e muito mais.
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