Não há dúvidas de que Homem-Aranha: Sem Volta para Casa se tornou o filme mais aguardado de 2021, superando Matrix Resurrections, 007: Sem Tempo para Morrer e Velozes & Furiosos 9. É, afinal, a promessa antiga da Marvel Studios em colocar o multiverso na jogada e, enfim, abrir as portas de suas criações para que não haja mais limites. Personagens mortos podem voltar, o passado pode se tornar presente, o que não foi pode se tornar verdade. Tudo se torna possível.
E esse conceito complexo de universos paralelos, abordado também em WandaVision, Loki e What If?, enfim ganha o grande público nos cinemas. O fraco Jon Watts, diretor responsável pelos outros dois filmes do amigão da vizinhança, retorna ao comando para contar a história de Peter Parker (Tom Holland) logo após ter sua identidade revelada. Em um ato desesperado, ele pede ajuda ao Doutor Estranho para que as pessoas do mundo todo esqueçam quem ele é.
Neste ponto, porém, as coisas dão errado. Peter se arrepende do pedido ao pensar que MJ (Zendaya), Ned (Jacob Batalon) e outros amigos e familiares vão se esquecer de sua existência e de toda a história até ali. Peter tenta interferir no feitiço e boom. Tudo que vemos no trailer vai se revelando: portas para o multiverso são abertas e vilões que conhecemos de outros tempos, como o Doutor Octopus, Eletro e Duende Verde, retornam para assombrar o cabeça de teia.
Watts reafirma, mais uma vez, como é um diretor operário sem muita criatividade. Ele aposta no arroz com feijão para contar essa história de um Peter Parker afetado pelos universos paralelos entrando em sua realidade. Joga muito da empolgação do filme para cima do público e, sobretudo, não se esforça muito. O roteiro de Chris McKenna e Erik Sommers segue o mesmo caminho com a "fórmula Marvel", um tanto quanto envelhecida após a boa mexida em Eternos.
Dessa forma, em sua essência, já podemos dizer logo de cara que Homem-Aranha: Sem Volta para Casa não é um filme espetacular -- longe disso. A direção mediana, o roteiro atropelado e o tom que já cansamos de assistir não desafiam o público em nada. Pelo menos tem seu momentos divertidos. O que realmente torna o longa-metragem diferenciado é a capacidade da Marvel em criar fan service. E Homem-Aranha: Sem Volta para Casa é lotado desses momentos.
São várias, repito, várias as sequências em que Watts dá aquela pausa dramática para que o público nos cinemas grite, se alegre, comemore. Isso, por um lado, tem seu efeito positivo: é difícil, mesmo não sendo tão fã assim, segurar a empolgação com a história na tela. Você fica contagiado pelo clima, pelas mudanças da história, pelo ritmo. Por outro, fica a mesmice. Parece que Homem-Aranha: Sem Volta para Casa não sabe criar empolgação de outro modo, outro jeito.
No final, são duas coisas que realmente se destacam: a atuação de Willem Dafoe, que se entrega ao papel com um vigor juvenil, e uma sequência de ação envolvendo Homem-Aranha e Doutor Estranho, com clara inspiração em A Origem -- nem parece que Watts dirigiu isso aqui. Há certo frescor nesses dois pontos, ajudando o filme a ganhar força. E há uma outra cena, que deve fazer o público derramar algumas lágrimas, mas... É, aí não tem como falar. É spoiler dos bons.
Enfim: Homem-Aranha: Sem Volta para Casa é um filme que, sem dúvidas alguma, chega para ser uma experiência nos cinemas. Vai causar gritos, choro, aplausos e suspiros. É genial, muito bom? Nada disso. Por incrível que pareça, O Esquadrão Suicida ainda é o melhor filme de super-heróis do ano. Homem-Aranha: Sem Volta para Casa é mais uma grande experiência do que um grande filme. Por isso, fica a recomendação final: vale a pena assistir ao longa nos cinemas.
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