É quase impossível assistir ao novo filme do Homem-Aranha sem relembrar da trajetória do herói e, principalmente, comparar com as outras produções do "amigão da vizinhança". Afinal, toda sua história é repleta de altos e baixos, momentos marcantes e alguns outros que não levam o herói à lugar algum. Sendo assim, Homem-Aranha: De Volta ao Lar não chega aos cinemas como a folha em branco que era Homem de Ferro ou Capitão-América, por exemplo. Pelo contrário. Ele chega rodeado de expectativas e com a tarefa hercúlea de superar o primeiro e o segundo filme da saga de Sam Raimi, com Tobey Maguire.
Assim, a Marvel não perde tempo fazendo a história de origem tradicional, com picada de aranha e a morte do tio Ben. O filme já começa com Peter Parker (Tom Holland) tentando entender o que aconteceu na cena do aeroporto, vista em Capitão América: Guerra Civil. Típico adolescente, ele é entusiasmado, curioso. Quer logo voltar à ação e mostrar para Tony Stark (Robert Downey Jr, em rápidas participações)que é herói digno de integrar a equipe dos Vingadores e combater o mundo de todos os problemas. No entanto, ele é deixado de lado e cumpre todas as atividades do bairro, como combater assaltantes de bicicletas.
O começo do filme, então, vai muito bem. Holland se mostra entusiasmado e confortável com seu papel, indicando que não se influenciou pelas personagens de Maguire e de Andrew Garfield. Ele conseguiu construir seu próprio Peter Parker -- e que é muito bom, por sinal. Além disso, o clima estudantil, que remete à Clube dos Cinco e até para De Volta para o Futuro, ajuda a construir um clima agradável na trama, condizente com as HQs clássicas do "cabeça de teia" -- afinal, ele é um estudante do ensino médio quando é picado, ao contrário do que foi visto nos outros filmes com o Homem-Aranha mais velho.
Para compôr o ambiente, o diretor Jon Watts, do mediano A Viatura, também acerta na escolha de coadjuvantes. Jacob Batalon surpreende como Ned (que deve vir a ser o Duende Verde ao longo da nova franquia), arrancando risadas e servindo muito bem como escape cômico da história, tirando a sobrecarga de funções de Tom Holland. Além disso, a estreante Laura Harrier faz uma Liz mais contida, mas que convence como o par romântico de Parker, preparando a chegada de Mary Jane nos próximos capítulos. O único grande erro é Marisa Tomei como tia May. Não tem carisma, não tem bons momentos.
Além do clima estudantil, que fazia falta nos outros filmes da saga, a Marvel deu mais atenção ao realismo da história. Ao invés de dezenas de vilões megalomaníacos (alô, Homem-Aranha 3), este novo filme cria uma personagem mais sóbria e com motivações mais mundanas -- e ainda com a ótima atuação de Michael Keaton, que repete o papel de seres alados em filmes de heróis. Não há motivações para acabar o mundo, nem para criar um raio destruidor que vai sugar toda galáxia. Ele é só um homem que encontra um meio de sobreviver.
No final, porém, há uma clara sensação de que "faltava algo". Qualquer um que assistir o filme vai se divertir, vai achar engraçado, vai gostar de Tom Holland e de Michael Keaton. E quem dizia que Tony Stark iria roubar a cena, vai ver também que não é assim. No entanto, parece que ainda há a falta de momentos grandiosos, cenas marcantes. Lembra da cena do trem em Homem-Aranha 2? Falta algo naquele estilo, ainda que Jon Watts tente repetir a cena (ou homenagear?) por meio de um cena com elevador e outra com uma balsa. Falta uma cena para ficar marcada na mente dos que assistem.
O resultado final, no entanto, é positivo. Apesar desta sensação de que falta algo e de não chegar ao Homem-Aranha 2, o filme diverte e prepara muito bem a franquia -- já estou ansioso para ver o Duende Verde e a Mary Jane, por exemplo. Afinal, há um ótimo desenvolvimento de personagens e de situações. Só falta a trama ganhar mais tração e força daqui pra frente para se tornar uma das franquias mais interessantes do universo Marvel.
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