O ano é 2016 e o Brasil está em cacarecos. Um caos generalizado. A presidenta Dilma já havia sido afastada de seu cargo, com Michel Temer assumindo a faixa. O País, enquanto isso, está altamente polarizado: para alguns, impeachment aplicado corretamente; para outros, golpe. E nesse cenário, os estudantes se unem aos movimentos sociais, tomam as ruas em passeatas, protestos e reivindicações. Cobram o fim da desigualdade e denunciam manobras políticas.
É nessa situação que Hamlet surge. Exibido na 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o longa-metragem acompanha a trajetória do personagem-título, que precisa (e deve) enfrentar seus maiores fantasmas: a sua transformação em adulto e seu lugar na sociedade. Agir ou não agir? Ser ou não ser? É nesse coming of age político que o cineasta Zeca Brito (do excelente A Vida Extraordinária de Tarso de Castro) vai discutindo o papel da juventude na política brasileira.
As ideias de Hamlet, principalmente na forma que se relaciona com a obra de Shakespeare, são boas -- mostra como o Brasil é um País de atividade política extrema, que joga as pessoas no debate muitas vezes sem clareza do que está acontecendo. Ainda mais nesse contexto apresentado na obra de Brito, em que escolas foram transformadas em QGs de pensamento político e resistência. Jovens chegam na vida adulta atuando politicamente, com força, presença.
O problema de Hamlet é que o filme parece perdido no tempo. Ainda que tenha boas intenções, o longa-metragem traz discussões que eram pertinentes há seis anos. Agora, elas parecem ultrapassadas e até mesmo ingênua, já que vivemos no cenário nacional que anda na corda bomba do fascismo. A jornada do jovem Hamlet, enquanto isso, não é interessante o suficiente para segurar o interesse da audiência, principalmente por conta de atuações apáticas, sem vida.
Nesse contexto, Hamlet é como se fosse aquela pessoa boazinha e simpática, que não deseja mal algum para os outros -- pelo contrário, quer contribuir com o debate social, com pensamentos e reflexões. No entanto, não faz diferença alguma no final do dia e, no debate público, não acrescenta muita coisa. Uma pena. Pelo menos, mais uma vez, Zeca Brito mostra que é um diretor versátil e pronto para os mais diferentes tipos de cinema. Continuamos de olho.
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