A história da ativista suíça e naturalizada brasileira Claudia Andujar é impressionante: viveu a guerra na Hungria, fugiu da perseguição nazista e, depois de se exilar no Brasil, encontrou espaço entre os Yanomami. Encontrando, finalmente, um berço, Andujar passou a ter esse povo indígena como o norte de sua causa. Desde então, além de seu trabalho celebrado como fotógrafa, Claudia passou a ser uma ferrenha defensora dos Yanomami. E ela é o tema de Gyuri.
Estreia dos cinemas desta quinta-feira, 7, o documentário busca explorar a ligação entre Andujar e os Yanomami, indo além desse encontro histórico. Afinal, apesar dos diferentes contextos e cenários sociais, Claudia e o povo indígena possuem algo em comum: a constante luta pela sobrevivência em suas vidas. Os dois sabem como é lutar contra o sistema, até mesmo contra governos que buscam pelo seu extermínio. É uma conexão forte, que vai além do perceptível.
Estreia em longas da cineasta pernambucana Mariana Lacerda, o filme segue um ritmo extremamente naturalista. Os primeiros vinte minutos do longa-metragem, por exemplo, contam com um relato de Claudia quase sem pausas, apenas com intervenções pontuais do filósofo Peter Pál Pelbart. Ela não busca ritmo, busca verdade. Essa sensação se mantém mesmo quando a suíça-brasileira chega na aldeia dos Yanomami para conversas com Davi Kopenawa.
É nesse momento que o filme tem uma guinada fortíssima. Afinal, mesmo com esse encontro gravado em 2018 por Lacerda, é impressionante como o filme tem raízes e discussões absolutamente contemporâneas. Em maio deste ano, por exemplo, Yanomami desapareceram após um crime cometido contra o povo. Nessas conversas de Davi com Claudia, observa-se muito da visão de mundo desse povo, assim como havia um incômodo social-político crescente.
No entanto, em pleno 2022, difícil não sentir certo incômodo com uma coisa específica: apesar da importância de Davi em conversas com Claudia, tudo passa pelo olhar e pela visão de mundo da suíça-brasileira. Ainda que haja essa conexão, fica aquele retrogosto de "branco salvador" na boca, com uma mensagem que pode ser compreendida de maneira torta, incorreta. Os indígenas parecem coadjuvantes da própria história. Talvez um filme só sobre Claudia funcionasse mais.
Ainda assim, Gyuri é um filme interessante. Traz detalhes sobre a jornada dessa mulher tão forte e com uma história tão impressionante, adicionando camadas na luta indígena do País com forças tão distintas e complementares. Poderia ter um ritmo mais interessante em alguns momentos, sem causar cansaço, e ter percebido melhor essa mensagem de "branco salvador" que surge. Ainda assim, não dá para não celebrar Claudia, ainda mais neste momento do País.
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