Pode-se dizer que o político Mikhail Gorbatchev é um dos grandes últimos líderes do século XX ainda vivo -- afinal, veja só, o tempo já levou Fidel Castro, Kennedy, Ronald Reagan e por aí vai. Assim, aos 90 anos, ele vive isolado na Rússia, praticamente sem contato com o mundo do poder, desde quando colocou um ponto final na União Soviética e começou a história da Rússia.
Em Gorbachev.Céu, longa-metragem que faz parte da programação oficial do É Tudo Verdade 2021, conhecemos um pouco mais da rotina de Gorbatchev enquanto nonagenário, já com dificuldades em se locomover e sem muito a fazer no seu dia a dia. Para isso, o diretor Vitaly Mansky investe tudo o que tem nas conversas, mostrando-nos um Gorbatchev solto e tranquilo.
Dessa forma, podemos ver uma outra face do líder político que ficará para sempre nos livros de História -- ainda que Encontrando Gorbachev, de Werner Herzog, continue sendo um filme extremamente mais interessante e atrativo. Ele reflete sobre a atual política russa, sobre líderes do mundo contemporâneo e também sobre suas dores e amores, principalmente sua esposa.
A aparente confiança que Gorbatchev tem no cineasta, assim como a inventividade do diretor em nunca desligar a câmera, faz com que esse mergulho seja realmente completo e potente. Vemos até mesmo como ele trata os funcionários, suas mudanças de humor e até mesmo os maneirismos que surgem no trato do dia a dia. É, sem dúvidas, um registro biográfico histórico.
No entanto, falta ritmo. Ainda que seja interessante acompanhar esse mergulho, tudo é muito lento. A edição não faz com que a entrevista tenha vigor. Tudo vai em um ritmo muito lento, muito contemplativo -- algo que não encaixa tão bem em alguns momentos. Além disso, há um ou outro momento de contextualização, mas Gorbachev.Céu exige muito conhecido prévio.
Se o espectador não souber o mínimo sobre União Soviética e Guerra Fria, com certeza ficará perdido na história que está sendo contada. Teria sido interessante o uso de mais arquivo para aprofundar um ou outro momento para um público mais amplo. Mas ok. É um grande registro histórico e que fará brilhar os olhos daqueles que gostam de saber mais sobre a Guerra Fria.
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