Confesso que não acreditava em qualquer tipo de ressurgimento da franquia Shrek. O terceiro e o quarto filmes, lançados respectivamente em 2007 e 2010, são fracos demais -- não à toa, a bilheteria não foi boa e a Dreamworks aposentou temporariamente a franquia. Teve apenas um rápido retorno em 2011, com Gato de Botas. Agora, 12 anos depois, a franquia dá um novo suspiro com o lançamento de Gato de Botas 2: O Último Pedido, nos cinemas nesta quinta, 5.
Dirigido por Joel Crawford (Os Croods 2), o filme tem uma história simples: o Gato (Antonio Banderas) vive intensamente, se apresentando em pequenas cidades e se mantendo como um fora da lei. No entanto, sua vida vira de cabeça pra baixo quando ele perde uma de suas nove vidas. O problema? É a última. Ele toma a decisão de procurar uma estrela mágica para realizar seu desejo de retomar as nove vidas -- ao lado de Kitty (Salma Hayek) e Perrito (Harvey Guillén).
A partir disso, Crawford já apresenta seus dois primeiros grandes acertos. Um deles, e que é o mais óbvio, é o visual de Gato de Botas 2: O Último Pedido. Enquanto Homem-Aranha no Aranhaverso acerta tremendamente ao colocar no cinema o visual dos quadrinhos, esta produção da Dreamworks coloca o tradicional visual dos contos de fadas na telona. É bonito, é interessante, é ousado. Tem explosões de cores, brincadeiras com formas. Criatividade pura.
Outro ponto, que logo chama a atenção, é como o roteiro de Paul Fisher (também de Os Croods 2) consegue resgatar o que há de melhor na franquia Shrek -- essência esta que havia sido perdida nos dois últimos filmes do ogro verde. Como há esse resgate? Primeiro, pela simplicidade da história em focar na amizade, nos laços. Depois, pelos ótimos vilões, aqui sendo representados por Cachinhos Dourados (Florence Pugh), ursos e Joãozinho (John Mulaney).
São todos absurdos, divertidos, interessantes. Há uma pequena sobra ali da Cachinhos Dourados, que é menos interessante do que Joãozinho, mas tudo bem. Ainda tem a figura do Lobo Mau (Wagner Moura), que é, talvez, a figura mais controversa do filme. Ainda que seja o personagem que traz ponto de conexão com a narrativa existencial de Gato de Botas 2: O Último Pedido, com ecos de Bergman (pois é!), é amedrontador demais. Os pequenos nem olham a tela.
Mas tudo bem. Esse peso do Lobo é recompensado pelo charme do Gato e, acima de tudo, pela graça do simpático e afável Perrito -- um dos personagens mais legais do universo de Shrek.
De resto, também é muito legal as piscadelas do diretor para o público. É o Biscoito que aparece ali, o Pinóquio que aparece acolá. E, na cena final, difícil não arrepiar. Parece ser um novo começo, uma nova história sendo escrita para Shrek que, agora, deve não só ter um completo apelo nostálgico, como também entrar na vida daqueles pequenos que não viveram a história de Shrek, Fiona e Burro. Gato de Botas 2: O Último Pedido, quem diria, é o retorno, e não o fim.
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