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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Garotos de Bem', da Netflix, é filme horrendo sobre violência sexual


Tem uma regra no cinema bem simples: faça o que você sabe fazer e, acima de tudo, fale sobre o que você entende e domina. Não dá para abrir exceções, não dá para ter brechas. Afinal, o cinema, uma arte de história e narrativa, deixa qualquer tropeço evidente. E é justamente essa regra de ouro que o filme Garotos de Bem, drama da Netflix, simplesmente não seguiu.


Estreia da plataforma desta quarta-feira, 14, o longa-metragem de Stefano Mordini (Testemunha Invisível) fala sobre um crime horrendo que aconteceu na Itália: um grupo de alunos de uma escola tradicional e católica da região estuprou, drogou e chegou a matar uma garota, mantida em cárcere privado por eles. Uma outra, que passou pelas mesmas situações, conseguiu viver.


É uma história sem dúvidas potente e melancólica e que, sob o comando certo, poderia render um filme tão forte quanto. Mas não é isso que acontece com Garotos de Bem. Sob a direção de Mordini, um homem, o longa-metragem se debruça na vida dos criminosos e deixa as garotas, vítimas desse crime absurdo e horrendo, como meras coadjuvantes sem qualquer brilho.


Ainda que dê para entender a intenção do diretor, que trabalha o roteiro de Massimo Gaudioso e Luca Infascelli, outros dois homens, o resultado é horripilante. A ideia de mostrar como a "tradicional família católica e religiosa" pode fazer parte de um crime aterrorizante, fazendo um paralelo com as "pessoas de bem" no Brasil, simplesmente não funciona. Fica ali, à margem.


Afinal, sem qualquer requinte da direção de Mordini, Garotos de Bem é chato, formulaico, óbvio. Nada surpreende e, rapidamente, o espectador está perdido. Os garotos criminosos, que deveriam ser vilões facilmente retratados para causar ódio, são apáticos -- não sentimos essa raiva deles nunca, de tão planos que são. Na hora da agressão, há apenas desespero e tristeza.


Pode parecer razoável não ter sentimos negativos com um filme (ódio, ira, raiva), mas não nesse caso, em que os criminosos são protagonistas. Mordini deveria ter pesado a mão, mas não o faz. O resultado é um filme que fica no limite de defender os criminosos, os tais garotos de bem, que saem sem qualquer prejuízo verdadeiro. Um horror. E, sendo uma história real, tudo só piora.

 

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