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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Furiosa' se confunde com os diversos caminhos de sua narrativa



É impossível não tecer comparações entre Mad Max: Estrada da Fúria e Furiosa, filme que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 23. Não apenas por fazer parte do mesmo universo criado por George Miller no finalzinho dos anos 1970, mas também pela qualidade técnica e artística inquestionável de Estrada da Fúria – um dos melhores filmes do século XXI.


Como não criar expectativas, enfim, de que Furiosa não tenha a mesma qualidade de surpreender, chocar e empolgar como no longa-metragem de 2015? Você, espectador que teve aquela experiência inexplicável na sala de cinema, sabe do que estou falando.


Furiosa também se aproxima mais de Estrada da Fúria do que qualquer um dos outros três filmes de Mad Max. Afinal, o novo longa-metragem conta a história de origem da personagem-título, agora interpretada por Anya Taylor-Joy (O Gambito da Rainha, O Menu), que é sequestrada por Dementus (Chris Hemsworth), um homem com muita sede de poder.


É todo o universo que já estamos acostumados, com o deserto, os carros insanos, o cenário distópico, os personagens deformados e até Immortan Joe (Lachy Hulme), mas com foco nessa personagem que tomou o protagonismo para si em Estrada da Fúria, quando então era interpretada por Charlize Theron – na melhor atuação desse outro longa-metragem.


O fato é que está tudo lá em cena, mas falta aquele brilho original e criativo que vimos em Estrada da Fúria. Não tem nada a ver com os efeitos especiais, que agora tomam conta, enquanto em 2015 o foco foi nos efeitos práticos. Também não tem a ver com a ausência de Max, personagem já vivido por Mel Gibson e Tom Hardy. É falta de mais George Miller.



O charme visual está presente em Furiosa, que se torna um deslumbre quando estamos sentados na poltrona do cinema acompanhando a jornada daquela personagem passando por tantas provações. Isso é inegável. Há, inclusive, uma ou duas cenas que te deixam na ponta da cadeira, enquanto um gigantesco caminhão enfrenta o caos do Deserto lá fora.


Mas o roteiro, que é o verdadeiro diamante de 2015, derrapa. O texto de Estrada da Fúria é um clímax sequencial, que nunca sossega, criando expectativas para quebrá-las logo depois – criando mais expectativas em cima disso. Você quer que Max, as esposas e Furiosa cheguem em determinado lugar. Quando “chegam”, precisam voltar para sobreviver.


Aqui, Miller – ao lado do roteirista Nick Lathouris, parceiro do cineasta desde o primeiro Mad Max – busca criar um universo mais complexo, fugindo dessa simplicidade genial de Estrada da Fúria. Ele mostra mais regras desse universo, com direito a explicar, no minuto inicial, como aquele universo se degenerou. É um Deserto em processo de criação.


O problema é que é muita coisa para contar. A sensação que dá é que George Miller queria falar muito, mostrar muito. Como colocar, mesmo em quase 150 minutos, tantas ideias? Temos a história de Furiosa; a desconfortável jornada de Praetorian Jack (Tom Burke), que se parece uma muleta para a história de uma mulher, sendo que não era nada necessário; tem a vilania caricatural de Dementus, que diverte, mas derruba o tom de ameaça da trama.


Afinal, isso é outro importante: enquanto Estrada da Fúria trazia dois personagens principais de peso (Max e Furiosa) com um vilão já conhecido e ameaçador (Immortan Joe), aqui isso não acontece. A personagem de Taylor-Joy é a única com mais peso – o tal companheiro de Furiosa, Jack, é de um vazio de significado impressionante. É a muleta sem vida.


Furiosa está longe, muito longe de ser ruim – nas comparações com o mundo de Mad Max, talvez valha comparar com Além da Cúpula do Trovão. Ainda assim, na inevitável e talvez injusta comparação com Estrada da Fúria, quebra um pouco do encanto e faz com que um público, que nunca mais vai esquecer a sensação na sala de cinema em 2015, sinta uma pontada de decepção com personagens menos impactantes e roteiro menos ousado.

 

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