O G1 definiu perfeitamente o que é Pastor Cláudio: "o melhor filme de terror do ano não é uma ficção". É isso. Dirigido por Beth Formaggini (Xingu Cariri Caruaru Carioca), o longa-metragem é um bate-papo entre o psicólogo e ativista Eduardo Passos com Pastor Cláudio, ex-delegado e responsável por algumas mortes e sumiços na Ditadura Militar -- e que agora se dedica para a igreja evangélica. Sem receios ou vergonha, ele fala abertamente sobre os crimes que ele e colegas cometeram durante o período.
Não é fácil de assistir. Forte e visceral, o longa-metragem mostra algo que é difícil de encontrar em produções do período: os bastidores da ditadura e a frieza com que ações eram feitas e planejadas. Cláudio Guerra, o entrevistado e que dá nome à produção, parece estar realmente arrependido do que fez no seu passado, quando tinha "trinta e poucos anos". Mas esse arrependimento, curiosamente, é um tempero a mais ali.
Afinal, o depoimento fica ainda mais cru, mais direto. Ele parece não ter medo de dar nome aos bois, falando o papel de vários militares em casos emblemáticos, como o assassinato de Zuzu Angel e o fracassado atentado ao Riocentro. Ele também não pensa duas vezes antes de detalhar como corpos eram incinerados -- por ele, inclusive -- e como se deu a parceria entre militares, civis e empresários. Em determinado momento, se mostrando lúcido, ele diz que foi, na verdade, ditadura "militar, civil e empresarial."
Formaggini filma bem a entrevista, sem fazer quase nenhum comentário e sem interferir nas boas perguntas de Eduardo Passos. Alguns planos de câmera são interessantes e há uma cena em particular que a fotografia se destaca -- na qual Pastor Cláudio fica em frente à uma tela refazendo movimentos de um assassinato. A projeção do rosto de vítimas no entrevistado também é muito simbólico, forte e representativo.
Afinal, tudo ali se torna arrepiante. Cláudio, aparentemente arrependido, fala sobre os crimes que cometeu, sem censura. Mas, ao mesmo tempo, parece não se emocionar com as vítimas e familiares -- jogados em sua cara. É a banalização do mal, da violência, da repressão. É o retrato da sociedade em que vivemos hoje, tão cruel e pouco empática.
Pena, porém, que alguns momentos fiquem atravancados na tela. Eduardo Passos, por mais que faça uma ótima condução da conversa, por vezes parece estar analisando Cláudio Guerra. Fica uma sensação estranha e o ritmo, antes bom, decai rapidamente.
Pastor Cláudio é, dessa forma, um longa-metragem aterrorizante. Dá medo pela frieza dos relatos, pela crueldade das vítimas, pela proximidade da situação -- e, também, por alguns relatos de Cláudio Guerra, ao final da conversa, que revela "forças ocultas" agindo no País. É um filme que deveria ser obrigatório para todo brasileiro assistir. Afinal, vivemos tempos nebulosos, quando torturadores são exaltados, ditaduras militares são celebradas e a violência é a ordem do dia. Um documentário necessário.
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